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|Tânia Rei| |
Mudaram de banco várias vezes. Alguns, desconfiados, olhavam para o banco anterior enquanto se perguntavam se a mudança tinha sido benéfica, ou se, na verdade, seria melhor voltar para a sentar-se ali ao lado.
Ninguém tinha ido jantar ainda, numa reunião que durava há horas, e que tinha sido marcada para o meio da tarde. Parte dos convocados nem sequer chegou ainda, porque não conseguiu decidir se deveria ir ou não. Foi proposto pedir uma pizza por telefone, só que não houve, ainda, consenso sobre se nos ingredientes podiam constar cogumelos.
Os Indecisos ainda não governaram o mundo porque não conseguiram definir como o fazer. Tudo o que conseguiram foi indecisar. Indecisaram durante tanto tempo, que não sabem agir de outro modo.
O Indeciso só se sente completo quando não tem certezas. Ter certeza do que quer que seja é, será, tem de ser, motivo para criar uma nova dúvida. É que algo não está bem se souberem o que querem e o que fazer.
O Indeciso vive sem saber que está a viver. Ainda não decidiu se quer mesmo viver, se deve viver, se pode viver, nem, muito mesmo, como o deve fazer.
Este individuo é tão perigoso sozinho como acompanhado. Sozinho é uma ameaça a si mesmo; em grupo é uma ameaça para a humanidade. Não reconhece, no entanto, o seu par. Todos, aos olhos confusos do Indeciso, parecerão ter mais vigor nas suas atitudes do que ele próprio. Por isso, o Indeciso é narcisista – o supra-sumo dos indecisos lá do sítio.
Nas veias do Indeciso não corre sangue. Corre dúvida. A dúvida é levada aos órgãos vitais, e por lá fica entranhada.
Ainda: é a palavra mais usada no vocabulário do Indeciso, complementada com expressões como “agora não”,” quem sabe um dia”, “logo se vê”.
Ainda não chegou a hora, ainda não chegou o dia, ainda não se viu. “Ainda estamos a decidir”, atiram por cima de um cardápio, não de um restaurante, mas de toda uma existência. Os Indecisos, que vivem na Indecisolândia, não são espécie rara, e é bom que fiquem nesse maravilhoso habitat natural. Nada é mais triste do que um Indeciso desorientado. Assumem comportamentos empolados para disfarçarem a pronúncia da Indecisolândia, só que “ainda”, “agora não”, “quem sabe um dia”, logo se vê”.