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|Hélio Bernardo Lopes| |
Bom, a verdade é que acertei: acabou por não se determinar a concorrer à próxima eleição presidencial, tal como Pedro Santana Lopes e Alberto João Jardim. Num certo sentido, Rui Rio como que havia desaparecido em combate.
Pois, eis que Rui Rio nos voltou agora a aparecer, e sempre, como é seu timbre, com uma nota firme do seu pensamento político: se o País continuar sem um pacto de regime, tudo se vai degradar. E logo completou: perante o atual quadro parlamentar, os partidos terão grande dificuldade em se entenderem para reformar o regime, num processo em que a regionalização deve ser a grande medida a debater.
Se é verdade que a regionalização do território de Portugal deve ser um objetivo central – Rui Rio chegar a não pensar assim –, também o é que com todos os restantes quadros parlamentares – e já lá vão quatro décadas – nunca o regime se reformou. Em boa verdade, até a atual novidade do quadro parlamentar poderá constituir um fator extremamente favorável a uma iniciativa que, afinal, nunca foi, até hoje, coroada de êxito.
O mais interessante nesta intervenção de Rui Rio, como na generalidade deste tipo de intervenções – até a Igreja Católica cai nesta pecha –, é que o caso é tratado numa perspetiva puramente nacional, como se tudo esteja bem por quase todo o lado, com os políticos portugueses a serem ultrapassados sem quartel. Nunca se procura – e menos refere – a causa do mundo ter chegado ao atual estado, com desemprego, pobreza e baixas condições de vida por quase todo o lado, ao mesmo tempo que se aproxima um conflito mundial que pode bem vir a ser singularmente devastador. E se o Papa Francisco ainda se determina a referir o deus dinheiro e a procura da riqueza como os valores que vêm conduzindo a esta realidade mundial, de Rui Rio e dos políticos portugueses, sobre esta evidência, nem uma palavra. Apenas o Bloco de Esquerda, o PCP, Os Verdes o Livre e poucos mais referem esta objetiva realidade. Até os nossos bispos se ficam a anos-luz das considerações de Francisco.
Deitando mão da atitude típica de um sonhador inveterado, Rui Rio lá volta com a célebre máxima de que tem de haver acordos de regime para as reformas que só assim se conseguem, de molde a evitar que, de cada vez que muda o Governo ou o ministro, mudem as políticas. A uma primeira vista, Rui Rio parece não se dar conta de que a visão hoje predominante no mundo é maléfica e de há muito apontada pelo Papa Francisco. Sendo economista, Rui Rio parece alinhado com os doutrinadores austríacos, para quem o Estado Social é uma estrutura forçada. Fica a impressão de que o egoísmo e o interesse individual, para Rui Rio, são as suas referências fundamentais para a organização social.
Por tudo isto, deixo a Rui Rio, se acaso este texto lhe chegar, que crie uma equipa de gente amiga, com cinco, seis ou sete elementos, cada um de seu setor político-ideológico, de molde a tentar conseguir um trabalho de partida para o que agora referiu nesta sua recente intervenção. Veremos, assim, se o tal trabalho surge ou se nada, afinal, irá Rui Rio conseguir.