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|Hélio Bernardo Lopes| |
Precisamente o que ao meu pensamento chegou ao redor das recentes notícias sobre as buscas das autoridades judiciárias ao Hospital de Santa Maria, ao redor de certo tipo de próteses. Recordemos, pois, alguns dados que nos foram chegando sobre o que parece ser esta temática.
Em primeiro lugar, este tema chegou aos portugueses atentos há uns meses atrás. Talvez entre seis e doze. E fê-lo por via de um estudo de Sónia Pires, encomendado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, e que, em resumo, dizia que a Maçonaria, a Opus Dei e a ligação a partidos políticos ainda são três realidades externas que intersetam a esfera do Hospital de Santa Maria. De resto, a notícia primeira sobre o tema dizia que o Hospital de Santa Maria, o maior do País, está minado por uma teia de interesses e lealdades a partidos políticos, à Maçonaria e organizações católicas.
Em segundo lugar, o estudo salientava ainda que os processos de nomeação não são claros e estão atravessados por outras dinâmicas como os jogos de interesse e as lutas entre professores na Faculdade de Medicina, e a presença de dinâmicas externas próprias à sociedade portuguesa – como a Maçonaria, a Opus Dei e a ligação a partidos políticos (ligação mais recente, temporalmente, e com ênfase particular no Partido Comunista e no Partido Socialista).
Ora, nada disto é estranho, mormente a envolvência de concidadãos da Opus Dei, ou de lojas maçónicas, até mesmo com ligações a partidos políticos. Mas o que já é estranho é serem esses partidos – os citados no estudo, claro está – o PS e o PCP. Apenas o PS e o PCP, o que só parece ser metade do expectável, dado não ser facilmente descortinável as razões de surgir por aqui o PCP. Se surgissem os partidos ditos do arco da governação, ainda vá que não vá, mas o PCP?! Mais um estudo, e lá nos surgirá o Bloco de Esquerda, talvez mesmo algum dos novos partidos que por aí andam.
Em terceiro lugar, a Fundação Francisco Manuel dos Santos é digamos assim, superiormente controlada por Alexandre Soares dos Santos, que é um concidadão nosso que segue o magistério da Igreja Católica e que recebeu o Prémio Fé e Liberdade, atribuído pelo Instituto de Estudos Políticos, (IEP), da Universidade Católica Portuguesa, prémio já antes atribuído ao padre João Evangelista – fundou a Associação Cristã de Empresários e Gestores –, a Maria Barroso, falecida há poucos meses, e a Mário Pinto, também da Universidade Católica Portuguesa e da Opus Dei.
A entrega do referido prémio foi feita pela direção do IEP, tendo Alexandre Soares dos Santos sido apresentado por Manuel Braga da Cruz, antigo reitor da Universidade Católica Portuguesa, mas num encontro em que usou da palavra, como moderador, o norte-americano, Alejandro Chafuen, membro muito referente da Opus Dei e que era, ao tempo, o presidente da Atlas Economic Research Foundation e vogal da direção do Acton Institute for the Study of Religion and Liberty.
Neste encontro usaram da palavra, como conferencistas do fórum que decorreu, João Salgueiro, Guilherme d’Oliveira Martins, Jaime Gama, Francisco Balsemão, Henrique Monteiro, José Manuel Fernandes, Francisco Assis, Paulo Rangel, Miguel Monjardino, Fernando Ulrich e Henrique Raposo. E há uma regra fácil de perceber que liga todos estes nossos concidadãos: em geral, são católicos, muitos da Opus Dei, ou são gente da direita dos respetivos partidos. Num dos casos, pelo menos, deu-se mesmo uma longuíssima ligação – e representação – ao Grupo de Bilderberg –, durante muitos anos.
A presença de Francisco Assis explica as suas recentes tomadas de posição em face do quase certo novo Governo do PS. Hoje, de facto, Assis nada tem que ver com a social-democracia, sim com a política levada a cabo pelo atual Governo minoritário do PSD e do CDS/PP. Mas também a presença de Jaime Gama se coaduna com o desejo formulado por Nuno Melo, a dada altura recente, de que aquele seria um excelente candidato ao Presidente da República.
E, em quarto lugar, aquela indicação do estudo atrás referido teve agora alguma materialização, ao redor do académico, José Manuel Matos Fernandes e Fernandes, por acaso membro de uma das lojas maçónicas há uns meses dadas publicamente a conhecer.
Para já, portanto, surgiu alguém ligado à Maçonaria, embora ainda em condições distantes de se poder dizer mais que do que foi noticiado. O problema que surge é a Opus Dei, porque o relatório referia gente desta estrutura, mas nada foi até agora referido sobre ninguém da mesma. O que levanta dúvidas sobre o valor do estudo em causa: se existiria gente da Maçonaria, da Opus Dei, do PS e do PCP, que é feito do resto, para lá de um mação sobre que nada ainda se sabe? Haverá de compreender-se que tudo isto, na sua globalidade, é estranho...
Se alguma coisa vier a provar-se contra quem quer que seja da Maçonaria, esta ficará com menos gente no Hospital de Santa Maria. Mas se nada vier a provar-se sobre concidadãos nossos da Opus Dei, esta sai incólume, continuando, pois, no interior daquele hospital. Sobram, pois, o PS e o PCP – nos termos do estudo, claro –, que tanto andam agora na berra. E se, qual milagre, surgir, num destes dias, algum nome de algum destes partidos? Conseguirá o novo Governo do PS seguir em frente?
Claro está que eu nunca pensei que a Opus Dei pudesse vir a ser tocada, mesmo que o relatório estivesse aqui correto. E a razão é muito simples: a Igreja Católica é, de facto, quem hoje comanda a nossa vida política à direita. Até dentro do PS, embora a um nível ainda muito baixo e só de agitação. E o leitor já reparou que Mário Soares deixou de aparecer e de dizer de sua justiça? Dou, por tudo isto, um conselho ao leitor: junte tudo isto, peça emprestada uma Bimby, e obtenha o resultado, porque é um cozinhado muito elementar de fazer. Ah, já agora: não deixe de ler O DESPERTAR DOS MÁGICOS, nem a excecional e clarificadora entrevista que José Pacheco Pereira dá ao i neste sábado, porque está lá uma montanha de mui boa informação. Faço o cozinhado.