Quando o que parece não é...

|Hélio Bernardo Lopes|

Tive já a oportunidade de salientar que Marcelo Rebelo de Sousa é o único candidato ao Presidente da República que ainda não assumiu, com clareza, o seu ponto de vista sobre a legitimidade do já pré-decidido Governo de António Costa, suportado no acordo parlamentar, em princípio para uma legislatura, entre o PS, o Bloco de Esquerda, o PCP e Os Verdes.

Também expus a minha explicação para este facto, e que é a necessidade de entrar no eleitorado do dito Centro-Esquerda, não dizendo que dissolverá a Assembleia da República, convocando novas eleições, a ver se PSD e CDS/PP voltam a ganhar com maioria absoluta; mas não podendo dizer que dissolverá, a fim de não ferir e perder a Direita. Para mim, porém, não existe um ínfimo de dúvida: se Marcelo vier a ser eleito, dissolverá a Assembleia da República, convocando novas eleições.

Acontece que o leitor, nestes últimos dias, passou a dispor de mais uma prova real para demonstrar esta minha posição. Diversos grandes jornais nacionais vêm revelando, com foros aparentes de verdade, que a Direita está a ficar furiosa com a falta de tomada de posição de Marcelo.

A uma primeira vista, os interessados no tema até poderão conceder a estas notícias algum crédito, mas tudo muda logo de figura quando os jornais lhes juntaram a notícia de que poderão avançar outros candidatos... Bom, o leitor passou a dispor da tal prova real, porque se aparecerem esses tais candidatos, Marcelo nuca será eleito na primeira volta, só o sendo na segunda, mas com o apoio dos ditos seguristas.

Ora, é minha impressão que tais candidatos nunca surgirão, porque se não fosse assim, já teriam aparecido. Como se sabe, falou-se muito de Santana Lopes, de Rui Rio, até de João Jardim, mas a verdade é que nenhum mostrou a fibra necessária para ir ao combate presidencial. Uma realidade que me traz ao pensamento certa doutrina militar: sempre pronto a combater, mas só com superioridade militar garantidamente vitoriosa. Até neste domínio a Direita se mostra claramente nada democrática: eleições são coisa a evitar a todo o custo, a menos que sirvam para transformar derrotas em vitórias...