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|Hélio Bernardo Loepes| |
Foram dois dias que se desenrolaram completamente dentro do que seria de esperar e que mostraram o nascimento de uma nova coligação destinada a suportar um Governo do PS e para quatro anos. Em todo o caso, numa situação onde as naturais divergências em pontos que podem ser sensíveis têm prevista a sua ultrapassagem. E foi também um acordo objetivamente gizado na base da lealdade e da boa-fé.
Do segundo dia, porém, nasceu um dado novo para a compreensão futura dos acontecimentos que por aqui passarão: PSD e CDS/PP porão sempre os seus interesses partidários bem acima dos do País e dos portugueses. Cada um de nós, desde que atento, percebeu isto mesmo pelas palavras de Paulo Portas. Será uma oposição de bota abaixo e a um nível que era desconhecido em Portugal desde 25 de Novembro de 1975.
Como pude já escrever por diversas vezes, tudo isto teve uma causa, embora não a mais antiga e estratégica: a infeliz decisão de uma mínima maioria de portugueses ao escolherem para o alto cargo de Presidente da República uma personalidade oriunda da Direita. Como também já salientei, uma revolução tem o dever de se defender. Precisamente o que foram capazes de fazer António Costa, Catarina Martins, Jerónimo de Sousa e Heloísa Apolónio.
Mas os portugueses irão também poder agora perceber o que realmente será para a nossa liberdade e a nossa democracia a União Europeia destes dias. A tal União Europeia que é, de facto, comandada por interesses não sufragados, tal como se pôde ver no tal documentário do programa, DOC 3.
A verdade é que estes dois dias se saldaram apenas no primeiro alívio dos portugueses, porque teremos agora que ver a decisão que irá ser tomada pelo Presidente Cavaco Silva. E esta é uma situação que se nos mostrará repleta de ensinamentos, nomeadamente ao redor da eleição que se aproxima para o Presidente da República.
Se o Presidente Cavaco Silva não aceitar a coligação oficialmente formada nesta terça-feira – e foram longas, complexas e muito completas as conversações entre os quatro partidos em causa –, tal terá de entender-se como a prova de que, se acaso pudesse, teria dissolvido a Assembleia da República, convocando novas eleições para deputados, na esperança de que surgisse a coligação do PSD com o CDS/PP como realmente vencedora, ou seja, com maioria absoluta.
A verdade é que o Presidente Cavaco Silva não pôde operar uma tal dissolução da Assembleia da República, sendo que quem lhe suceder, a partir de certo momento, poderá fazê-lo. Ora, nós sabemos que António Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém nunca seguirão um tal caminho, pelo que se o Presidente Cavaco Silva não empossar o novo Governo do PS de António Costa, será lícito aceitar que terá a esperança de que Marcelo Rebelo de Sousa venha a vencer, sendo este a operar a tal dissolução e a convocar novas eleições, a ver se a vitória sorri à coligação do PSD com o CDS/PP.
Com um pouco de atenção, o leitor facilmente terá já notado que António Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém se pronunciaram já sobre o que está a passar-se e o que fariam – e farão, claro – se estivessem no lugar de Aníbal Cavaco Silva. Só Marcelo Rebelo de Sousa ainda nada disse sobre o tema que hoje atravessa a sociedade portuguesa. E a razão é simples de perceber: se concordasse em manter o Governo do PS de António Costa, perderia nas áreas do PSD e do CDS/PP; se dissesse o contrário – é o que realmente pensa –, não entraria na área do PS.
Passámos, pois, a dispor de um critério seguro de decisão para o caso do Presidente Cavaco Silva não aceitar o mais que lógico Governo do PS de António Costa: haverá, então, que fugir do voto em Marcelo Rebelo de Sousa, porque é da sua intervenção que se ficará à espera, a fim de dissolver a Assembleia da República, convocando eleições, na expectativa de que o PSD e o CDS/PP voltem a vencer, ou seja, a conseguir uma maioria absoluta.
Em contrapartida, se o Presidente Cavaco Silva aceitar a nova proposta de Governo do PS de António Costa, continuará a subsistir a dúvida: o que irá fazer Marcelo Rebelo de Sousa se, por mais uma terrível desatenção dos portugueses, vier a suceder a Aníbal Cavaco Silva como Presidente da República?
Termino pois, com esta minha chamada de atenção: uma revolução tem o dever de se defender, pelo que, tendo em conta o caso da nossa III República, e depois do que se pôde ver com as presidências de Aníbal Cavaco Silva, o melhor é eleger um candidato que se sinta plenamente irmanado com a Revolução de 25 de Abril e com a atual Constituição da República. Tudo está, pois, nas mãos dos portugueses, sento igualmente muito transparente.