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| |Hélio Bernardo Loepes| |
No segundo caso, a China mostrou uma capacidade que a ignorância vasta dos políticos norte-americanos – até de muitos ditos especialistas, que apoiam o Governo – impediu que fosse tida em conta. Além do mais, sobretudo no caso da China, sempre existe o potencial de ataque nuclear dos Estados Unidos e que estes, num caso muito extremo de perda de controlo dos interesses mundiais, não deixarão de utilizar.
Tal como já expus em textos anteriores, os Estados Unidos têm em mente operar esse ataque nuclear, tanto à Rússia como à China. Para assim proceder, porém, precisam de argumentos válidos. Argumentos que poderão ser verdadeiros ou meramente fabricados e depois vendidos pela grande comunicação social ocidental, que se encontra, de um modo muito geral, sob o controlo dos interesses norte-americanos.
Ora, num destes dias, sem um ínfimo de espanto para mim, surgiu uma notícia com o título seguinte: RÚSSIA PLANEOU LANÇAR BOMBAS ATÓMICAS EM LONDRES DURANTE A GUERRA FRIA. Bom, caro leitor, um razoável conjunto de erros, de imprecisões e de inutilidades. É por ser esta a realidade que resolvi escrever este texto.
Em primeiro lugar, admitindo ser o conteúdo da notícia verdadeiro, não foi a Rússia que assim procedeu, antes a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, (URSS), que é uma realidade diametralmente oposta à que hoje tem lugar – aqui sim – na Rússia. Se a situação fosse a mesma, de há muito que Evgueny Moravich tinha sido posto na prisão ou simplesmente expulso do país.
Para o leitor incauto, menos atento a estes pormenores, o que fica na memória é a palavra Rússia. Esta palavra é hoje o nome do país presidido por Vladimir Putin e que os Estados Unidos se vêm preparando para, de algum modo, ter uma justificação para atacar com armas nucleares. Ou seja: a Rússia planeou um ataque nuclear a Londres, a Rússia é dirigida por Putin, logo, Putin é um político agressivo e perigoso para o Ocidente. O problema é que esse tal dito planeado ataque foi dos dirigentes da antiga URSS, e não da Rússia de Putin.
E, em segundo lugar, a notícia, porém, suporta-se numa carta existente – e só agora descoberta, veja-se bem...– nos Arquivos Nacionais Britânicos. Uma carta que será da autoria de William Penney, um especialista britânico em bombas nucleares, datada de meados da década de cinquenta do passado século. Um especialista que faleceu em 1991, e que informou que o ataque seria sobre as localidades londrinas de Croydon, Uxbridge e Romford.
Ora, a dado passo, a carta dirá que, ao invés de usar trinta e duas bombas em Londres, eles – os soviéticos, relembro eu – vão usar provavelmente três, quatro ou cinco muito poderosas que vão causar os mesmos danos mas sem precisarem de ser direcionadas a um alvo.
Esta afirmação é muito interessante, porque mostra – a ter tudo isto existido, o que é pouco provável – que o primeiro tipo de bombas – as trinta e duas, certamente do tipo nuclear – seriam consideradas necessárias para destruir Londres, percebendo-se que os efeitos das bombas de Hiroxima e Nagasaqui só foram os que se conhecem pelo tipo de construção existente nestas cidades, essencialmente em madeira e papel. Numa cidade como Londres, com construção de alvenaria ou betão armado, tudo seria muito mais difícil. Por isso se teria repensado o ataque, mas então com bombas de hidrogénio e só três, ao que parece com menor precisão dos seus veículos transportadores.
Acontece, porém, que o general Curtis Le May, deste o tempo de Truman até ao de Kennedy, sempre teve planeado um ataque às principais trinta cidades soviéticas – não russas, mas soviéticas – com cerca de duzentas bombas nucleares do tipo usado no Japão, embora sempre rechaçado nesta sua ideia maluca, que vem agora, com o Nobel da Paz Obama, a ser revitalizada através de sucessivos pequenos passos. O próprio MacArthur também defendeu um ataque nuclear às tropas chinesas, quando percebeu que a Guerra da Coreia não ia ser vencida. Nem perdida. Bom, Truman teve melhor bom senso que Obama e num ápice demitiu-o.
O que o leitor pode facilmente perceber é o real significado desta notícia: os Estados Unidos pretendem criar um clima, ao nível da opinião pública mundial, que leve a aceitar facilmente a necessidade de atacar a Rússia e a China com armas nucleares. Tudo está a decorrer, com sucessivos sinais dados aos poucos. E sabe o leitor qual é a fonte da segurança dos norte-americanos? É que eles sabem que constituem uma sociedade desde sempre baseada no uso da força e da brutalidade e que gozam de um grau de loucura que permite realizar ações que são impensáveis, em princípio, para a grande maioria dos povos do mundo.
