De Roma a Portugal

|Hélio Bernardo Lopes|
Entre Roma e Portugal, em matéria de aplicação prática das orientações de Francisco, parece que estão a surgir algumas dúvidas. Nem sei bem se a palavra mais adequada é esta, escrita aqui no plural. Um tema que suscitou o presente texto, ao redor da chamada de atenção do bispo José Cordeiro, da Diocese de Bragança-Miranda.

Diz o bispo José Cordeiro que da parte da Igreja Católica a definição global dada pelo Papa Francisco foi o seu apelo às paróquias para que acolham, ao menos, uma família dos muitos milhares hoje em fuga por essa União Europeia que não deseja, de facto, recebê-las. A verdade, como há dias referi, é que desconheço uma qualquer paróquia de Lisboa que já tenha recebido uma qualquer família.

Não creio, como se começa a perceber, que os migrantes e as suas famílias venham a ter grande êxito, na União Europeia que já se conhece bem, nesta sua tentativa de fugir da guerra, da morte, da fome e de uma vida sem sentido. De resto, foi o Ocidente que lhes levou a guerra, como tão bem se sabe, percebendo-se agora, já com enorme evidência, que o dito Estado Islâmico se transformou num peão jogado pela grande estratégia dos Estados Unidos. Houve sempre quem estranhasse a natureza e a origem desse tal Estado Islâmico, mas já se percebeu agora a realidade que o gerou e o que com o mesmo se pretende: derrubar Bashar al-Assad e colocar na Síria um novo Poroshenko, de molde a cercar, um pouco mais, a Rússia.

Como é natural, se algumas famílias vierem a ser recebidas nas paróquias sob a liderança do bispo José Cordeiro, tal terá de ter um início, porque essas famílias desconhecem a origem do nordeste transmontano. As autoridades locais terão sempre de dar a sua ajuda, mormente as paróquias e nos termos do pedido do Papa Francisco.

Simplesmente, se essas pessoas ali forem acolhidas, surgirão problemas a resolver e que são resolúveis. Desde logo, a residência, logo assegurada pela orientação papal. Depois, a alimentação, o que facilmente se conseguirá com a tradicional boa vontade dos portugueses e deitando mão de grandes números. A seguir, o estudo e promoção das crianças, a aprendizagem da língua portuguesa e, sempre que possível, um trabalho para poder ser realizado e que permita ajudar na globalidade do problema. Se depois quiserem ficar, muito bem. De contrário, poderão voltar para um outro lugar.

Mas o que entendi aqui como mais importante – causou-me alguma admiração – foi o facto de o nosso bispo temer também reações locais que dificultem a integração, porque dificuldades existem sempre e neste caso não é apenas uma cultura diferente, é também uma religião diferente, é hábitos diferentes, gastronomia diferente, é tudo tão diferente que é preciso ser bem pensado, bem articulado.

Claro que também penso assim, mas um tal problema tem sempre solução. É essencial ter uma conversa com os elementos dessas famílias e explicar-lhes a realidade em que se encontram: não falam português, pelo que terão de aprender a nossa língua; existem ciclos próprios de vida, que são os nossos, pelo que se querem aqui estar, terão de os ter em conta; a alimentação existente e praticada é a nossa, pelo que terão de fazer opções, porventura por via de um leque muito reduzido de escolhas; não existem mesquitas, nem templos ortodoxos, ou sinagogas, mas podem fundá-los, se assim entenderem e se cumprirem as regras legais em vigor; etc..

Enfim, cá continuo à espera das tais quatro mil setecentas e trinta e duas famílias – no mínimo –, de molde a dar cumprimento ao desejo de Francisco.

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