Salvação, só com a lucidez dos portugueses

|Hélio Bernardo Lopes|
De um modo imensamente geral, não se duvida, no seio da sociedade portuguesa, de que só foi possível chegar à atual situação do País e dos portugueses por via da ação política da atual Maioria-Governo-Presidente. 

Como muitos recordarão, a tempo e horas salientei que a eleição de Aníbal Cavaco Silva para o alto cargo de Presidente da República foi o maior erro jamais cometido pelos portugueses durante os anos da III República. Bom, o resultado permite já confirmar aquela minha opinião.

Também só raros duvidarão de que a continuação da atual maioria à frente dos destinos do País seria a continuação do pesadelo que se conheceu, aliviado taticamente durante este ano de eleições. Basta que se recordem os tais seiscentos milhões de euros que irão atingir as reformas. É por ser esta a realidade que surgiram os resultados de duas sondagens online no Correio da Manhã, (CM), e no Diário de Notícias, (DN), pelo final da passada semana.

Assim, o CM perguntava: O discurso de Passos no Pontal foi convincente? Pois, às 18.14 horas 63,6 % diziam que não. Em contrapartida, às 18.28 horas, também de domingo, o DN perguntava: Quem esteve melhor nos discursos da festa do Pontal? Bom, 71 % diziam terem estado mal os dois.

Estas duas sondagens mostram esta realidade simples: a generalidade dos portugueses está farta da atual Maioria-Governo-Presidente. O dia da sua saída do poder será, em princípio, um dia novo e de extrema felicidade. Simplesmente, é preciso que alguém venha ocupar o espaço político assim deixado vago. E é aqui que os problemas, contra o que muitos poderiam imaginar, tem vindo a ter lugar.

Qualquer pessoa minimamente atenta e que disponha de alguma sensibilidade política, facilmente terá percebido que, com a recusa de António Guterres, o PS deixou de poder apresentar um candidato ganhador. Simplesmente, isso é uma realidade que pode sempre ter lugar, bastando recordar os casos de Soares Carneiro, Cavaco Silva ou Basílio Horta: nenhum venceu a primeira corrida presidencial em que entrou. E teria bastado ponderar um pouco, para logo se perceber que a direita desses períodos não dispunha de ninguém ganhador. O mesmo se deu, precisamente, com o atual PS. Não foi Maria de Belém que veio tarde, mas sim o facto de saber que sempre seria copiosamente derrotada numa corrida a dois. Além do mais, custa acreditar que a direita apresente mais de um candidato. Não são tolos...

A candidatura de Maria de Belém não se destina a ganhar, ou logo teria sido avançada. Ela acabará sim por permitir que, com um só candidato à direita, este possa logo vencer na primeira volta. Se não vier a vencer, é minha convicção que boa parte do eleitorado do PS que irá apoiar Maria de Belém, na segunda volta, ou votará no candidato da direita, ou abster-se-á.

Houve aqui, neste caso, um erro de António Costa, embora com repercussões mais gerais: o esquecer o velho ditado popular digno de registo, a cuja luz, quem seus inimigos poupa, às mãos lhe morre. Ao manter nos órgãos do PS muitos dos derrotados de António José Seguro, Costa acabou por colocar ao seu lado quem consigo está a criar uma orquestra cabalmente desalinhada. É um domínio em que é conveniente recordar Manuel Ferreira Leite, com Pedro Passos Coelho. E mesmo até com diversos outros e noutras épocas. Lá dizia o histórico anúncio: não se pode ter tudo por dois escudos... A consequência foi o que ontem mesmo se pôde ver: depois de António Costa dizer que presidenciais só depois das legislativas, logo um pouco depois Maria de Belém veio desdizer o seu líder, falando agora formalmente e assegurando que irá ser candidata ao Presidente da República!!

No entretanto, Eanes, Soares e Sampaio quase desapareceram. Sabemos, obviamente, que são declarados apoiantes de António Sampaio da Nóvoa, mas é essencial ir mais além. Porque se assim se não der, o que acabará por resultar será a conversa de ontem sobre que, se fosse agora, talvez Soares e Sampaio não tivessem dado o seu apoio a António Sampaio da Nóvoa. Portanto, o que dizem a isto Soares e Sampaio? Nada?! É óbvio que me custa acreditar que qualquer deles pudesse apoiar Maria de Belém, dado tratar-se de uma candidata garantidamente derrotada. Por fim, uma temática que as televisões evitam abordar: para lá do apoio dos três antigos Presidentes da República, a verdade é que até Henrique Neto já veio a terreiro com uma intervenção deveras contundente sobre Maria de Belém. E não faltam exemplos os mais diversos, embora só o dia da eleição acabe por tirar as teimas.

Pois, caro leitor, nós não chegámos ao estado em que nos encontramos por causa da governação de José Sócrates. Não tem irmãos gémeos em parte alguma, mas a verdade é que a balbúrdia política varre o mundo, fruto, como se percebe, da adoção do modelo neoliberal e da globalização. Mas se o PS quer dar um rumo novo à vida dos portugueses, suportado na confiança e no desenvolvimento económico, então tem que ter ideias fixas e bater-se por elas, ou seja, deve, desde já, liderar o seu ambiente político interno. Com cada um ao seu e o resto ao ataque, bom, só com uma fantástica lucidez política dos portugueses...

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