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| |Hélio Bernardo Lopes| |
Na noite da passada quinta-feira fui encontrar um debate televisivo, creio que na SIC Notícias, com os convidados Luís Delgado, Paulo Baldaia e Pedro Adão e Silva. Foi mais um tempo de antena destinado a comentar o Programa de Governo da atual Maioria e teve, por isto mesmo, um ínfimo interesse.
Em todo o caso, penso valer aqui a pena voltar a tratar o tema, também abordado ali, já pelo final, das mudanças ao nível constitucional e do Sistema Político. Sobretudo, este último.Por sorte, Pedro Adão e Silva, ainda que parecendo um pouco envergonhado, lá teve a coragem para fugir ao politicamente correto, mostrando acreditar que as mudanças no Sistema Político podem nada vir a trazer de positivo. Podem até ter um efeito inverso. Como sabem os que acompanham os meus textos, nunca duvidei de que esta será sempre a realidade neste domínio.
Os mais novos da nossa comunidade nacional, mesmo já desiludidos com a qualidade da política que vai reinando no País, poderão não dispor de uma ideia adequada da atitude da generalidade dos portugueses perante a democracia, ao tempo da II República. Existam alguns, poucos, que sonhavam com tal ideário, mas a generalidade da nossa comunidade humana não tinha um ínfimo de interesse pela democracia.
Claro está que, rebentando em Abril de 1974, uma revolução, ela acabou por mexer com todos. Em todo o caso, a grande maioria foi sempre muito cautelosa, nunca concedendo um benefício previamente garantido às mudanças revolucionárias do primeiro ano e meio de vida da revolução. Num ápice, as conversas diárias giravam sempre ao redor de bernardas possíveis, ou de intervenções franquistas ou norte-americanas. Pois, o resultado surgiu com as duas primeiras eleições, para a Assembleia Constituinte e para a Assembleia da República, em que o PS se ficou mui ligeiramente acima dos trinta e cinco pontos percentuais. E se o primeiro Governo de Soares pouca vida teve, já o segundo, também curto, teve de escorar-se no apoio da direita católica que havia votado contra a Constituição de 1976.
A abstenção, pequena ao início, nunca mais deixou de crescer, em concomitância com um progressivo direito de acesso do setor privado concedido a todas as principais áreas da vida em sociedade. E foi preciso surgir Aníbal Cavaco Silva na governação para se conseguirem oito anos de maioria absoluta de um só partido, logo por acaso o PSD.
A generalidade dos jornalistas, analistas, comentadores e políticos nunca olhou adequadamente para esta realidade, nunca conseguindo perceber que o PS, ainda com Soares na liderança e aos poucos, ia cavando a sua própria sepultura. O desinteresse pela política, naturalmente, foi crescendo, até pelo modo português de a viver, em que se vive de marcas com certa poder de eternidade, sem usar o pensamento para lá de certo limite.
Hoje, como se percebe com extrema elementaridade, o que os portugueses desejam é uma força política dirigida por políticos que lhes devolvam a dignidade que a atual Maioria-Governo-Presidente lhes retirou. Nada, na atitude dos portugueses, tem que ver com estarem mais próximos ou mais distantes dos políticos, poderem pedir-lhes responsabilidades ou não, mas ter a certeza de que a dignidade natural da vida humana não lhes é ainda mais restringida.
Se os nossos políticos de hoje pretendem defender a vida política e a democracia, o que devem é governar bem, mormente defendendo a dignidade da vida dos portugueses, combatendo, de facto, a corrupção, e defendendo, indubitavelmente, a autonomia do Ministério Público e a independência da Judicatura e dos Tribunais.
Devem repor o que tiraram indevidamente e devem evitar medidas de fundo que, a curto prazo, destruiriam a própria estrutura das reformas hoje já atribuídas. Num ápice, os portugueses passarão a dar-se conta de que responder à política vale a pena, visto que passará a existir o essencial à dignidade humana a defender. Termino este texto com uma pergunta adaptada de certo anúncio: mais palavras para quê?!
