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| |Hélio Bernardo Lopes| |
Como se sabe a Igreja Católica, pelo final do pontificado de Bento XVI, havia atingido as horas da amargura, fruto da ação criminosa do seu banco, há algum tempo apontada, com insistência, pelo Governo de Itália e pela Secretaria de Estado dos Estados Unidos, consequência, também, da fantástica prática da pedofilia no seio das estruturas da Igreja e por toda a parte, e pelos escândalos que estavam a ter lugar no seio da Cúria e que acabaram por chegar ao conhecimento público.
A dimensão destas realidades deverá ser de tal ordem, que numa conversa de Francisco I com um padre argentino seu amigo, depois deste lhe salientar a necessidade de ter cuidado com a proteção da sua vida, aquele lhe respondeu: olha, se morrer, será o melhor que me poderá acontecer. Por esta conversa se pode perceber o que deverá ser o ambiente de intriga no seio do comando vaticano, que o Papa Francisco foi encontrar. Claro que nunca embarquei naquela alegria sem nexo de que tínhamos um Papa muito simpático, muito humilde e muito próximo, porque Bento XVI também foi sempre simpático, também nunca esteve longe de ninguém e não deixava de ser também humilde, embora pudesse ter outros gostos e estar perante outras necessidades de aparentar em nome da Igreja que encimava.
Em todo o caso, naqueles domínios desde sempre apontados como requerendo uma solução modernizadora, Francisco, de facto, nada mudou. Tudo não tem passado de uma ação muito intensa de marketing, sempre com a garantia de que o poder crítico dos crentes católicos é praticamente nulo. Nem a grande comunicação social se determinou a voltar a tratar os tais temas que serviam para apontar velhice à Igreja Católica, nos tempos de João Paulo II e de Bento XVI.
Os casos mais batidos na comunicação social, antes da chegada de Francisco I, eram o do celibato dos padres, o do acesso das mulheres ao sacerdócio e tudo o que girava ao redor da defesa da vida, assim entendida pela Igreja Católica. E também, como se sabe, o problema dos casais católicos separados, ou divorciados, e que tivessem voltado a casar. Bom, se Bento XVI era mau por nada disto ter resolvido, Francisco, continuando a nada resolver – verdadeiro milagre, mas do marketing da comunicação social –, passou logo a ser mais uma maravilha do mundo.
A verdadeira grande diferença passou a ser os sapatos, agora pretos e borrachões, e não vermelhos, bonitos e de um fabricante parisiense de alto coturno. E também a distribuição de beijinhos a crianças em lugares os mais diversos, ou inesperados telefonemas que só valem para quem os recebe, etc.. No fundo, ao nível dos tais grandes problemas que eram anteriormente apontados, bom, nada mudou.
Pois, hoje mesmo, num dos nossos jornais nacionais, surge a notícia de que os nossos bispos católicos terão assumido, ao redor dos temas discutidos há cerca de um ano, uma posição conservadora. Diz-se, até, que a hierarquia católica portuguesa está dividida ao meio, embora se perceba que, no final das contas, o que irá prevalecer é a posição dita conservadora e que é a de todos os nossos bispos. Nunca por um só segundo duvidei de que seria este o resultado.
Como se vê, o celibato dos padres continuou com Francisco, o mesmo se dando com o dito Banco do Vaticano, embora agora acompanhado com uma comissão de supervisão... E como é ela constituída? Pois, por um cardeal, um ou dois bispos, uma antiga embaixadora dos Estados Unidos no Vaticano, e que é membro da Opus Dei, e por um técnico de temas bancários. A máxima independência, portanto... O acesso das mulheres ao sacerdócio já foi chão que deu uvas, e agora aí temos os bispos portugueses – e os restantes, claro – a darem a sua negativa às ideias postas à discussão por Francisco I e aos seus aparentes desejos e pontos de vista.
Dirão agora alguns católicos: coitadinho, ele queria, só que não o deixam. Em contrapartida, eu prefiro que me chamem de bruxo, embora tenha descoberto o que estava claramente escrito nas estrelas. O Papa Francisco viu-se à frente de uma Igreja Católica cuja imagem de desgraça moral varria o mundo. Portanto, o que poderia fazer Francisco? Pois, distraiu as grandes massas humanas, em geral incultas no domínio doutrinário religioso, também acéfalas e mui limitadas na capacidade de se posicionarem em face das farsas que a vida sempre comporta.
Por fim, a grande vantagem de tudo isto, mormente para os portugueses: aqui está, com esta tomada de posição dos bispos portugueses, a razão do seu silêncio em face da desastrosa e desumana política da atual Maioria-Governo-Presidente. Nunca levantaram a sua voz no combate à injusta política neoliberal ora em curso. O resto é farsa.
