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| |Tânia Rei| |
…quem não está na nossa vida, porque continua a existir noutro plano, diferente.
Seguiu outro rumo, ou nós seguimos outro, ou, às vezes, nem sabemos bem. Apenas estavam, e deixaram de estar. É a vida, pois. Era assim que tinha de ser, não havia outra maneira. Talvez houvesse (há sempre uma segunda escolha, mas isso agora não vem ao caso).
E como se lida com alguém que sabemos que existe, que respira e que vive, que já existiu, respirou e viveu connosco, e agora, quando olhamos para o lado, apenas vemos um lugar vazio?
Não faço ideia. Mas gostaria de saber. Gostaria de ser eu a descobrir a fórmula para tal, e vendê-la-ia em frasquinhos pequeninos e caros, que nunca ganhariam poeira.
O silêncio de um vivo é bem pior do que o silêncio de um morto. Dói mais, porque sabemos que continuamos a ouvir somente o eco na nossa voz por falta de vontade do outro lado de verbalizar palavras de resposta.
E damos por nós a perceber que há lembranças, partes passadas na nossa vida, que agora, noutros tempos, deixam de fazer o mesmo sentido quando contadas. Tudo porque temos de explicar quem é a dita pessoa que figura nessa memória. Imagino que para quem nos está a ouvir, e a fazer a projecção mental, estejamos acompanhados de uma pessoa sem rosto, ou só por um amontado de pixéis, tal é a falta de vontade de descrever, de pensar, de reviver.
Também os pormenores dessas pessoas, das que estiveram e que já não estão, se vão desvanecendo. Não há necessidade de decorar os amigos não-comuns, as histórias de família e as datas de casamento dos primos. Esquecem-se hábitos, roupas, cheiros e manias. Há coisas que ficam, que ignoramos, que entranhamos e que damos como nossas. Não são, mas, quem precisa de o saber?
Dizem que os amigos são para sempre, mas não são. Como poderiam ser, se, no final das contas, nada é para sempre? Ao fim e ao cabo sempre soubemos que assim seria.
E muda o canal por onde corre a água, muda o curso do rio, fazem-se albufeiras e corre-se para desaguar no mar – vai-se sozinho, com os de sempre e com os novos que fomos encontrando na margem. É que, afinal, o importante é ir.
