Todos iguais, de primeira e de segunda

|Hélio Bernardo Lopes|
Quem vá acompanhando a vida do País, bem como a da famigerada União Europeia, já se terá dado conta de que os ditos tratados que estruturam esta entidade ora valem, ora já não valem. 

É, diga-se com bastante verdade, uma excelente definição do barco à deriva em que se transformou a União Europeia, que nunca devia ter vista a luz do dia.

Não há muitos dias, depois de se ter visto à saciedade que as instituições da União Europeia não passam de letra morta, com esta a ser realmente dirigida pela Alemanha, surgiu François Hollande a defender uma vanguarda da Zona Euro, destinada a governar esta mesma entidade. Uma vanguarda que seria constituída pela Alemanha, França, Itália, Bélgica, Luxemburgo e Holanda embora o presidente francês prefira apresentar a palavra França em primeiro lugar…

Nestes termos, a Zona Euro seria constituída por dois conjuntos de Estados: aqueles seis, enunciados por François Hollande, e os restantes treze, sendo aqueles quem governaria a referida zona monetária. E, como seria de esperar, já se reconhece, ao nível francês, que tal ideia imporá uma mudança nos tratados. Ou seja: desta vez já se podem mudar os tratados...

Simplesmente, terá de existir uma diferença entre dois Estados que tenham, perante situações idênticas, seguido caminhos diferentes, como se deu com Portugal e Espanha. Enquanto a nossa oposição ao Governo de Sócrates viu como excelente o recurso a um resgate, já a Espanha, numa situação similar, tratou o caso à luz do épico que marca a cultura espanhola, recusando um qualquer resgate. Tal como há algum tempo Eduardo Lourenço disse em S. Pedro do Rio Seco, sua terra natal, a diferença entre os portugueses, mais líricos, e os espanhóis, mais épicos.

Ora, esta diferença voltou já a manifestar-se, porque os tais dois conjuntos de Estados poderão vir a ser três: os tais seis, que irão comandar a Zona Euro, a Espanha – ligada, de facto, aos seis anteriores –, e os restantes doze, sendo Portugal e a Grécia dois deles. O que significa, de facto, que a Espanha poderá vir a integrar a tal vanguarda da Zona Euro, com que François Hollande pensa poder vir a resolver a crise do euro. Um caminho que oscilará entre a borracheira e a palhaçada: sendo uma tragédia, sempre consegue causar algumas risadas.

Pode o leitor ver por aqui no que se tornou a União Europeia, muito em especial a Zona Euro: todos iguais, mas com uns sete de primeira e os restantes de segunda. Os que mandam e os que são (co)mandados. Uma maravilha...

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