Eterno sonhador

|Hélio Bernardo Lopes|
De um modo que já não causa espanto a ninguém, Manuel Alegre continua a ser um verdadeiro sonhador, sempre em defesa da democracia, mesmo quando se percebe que, para os que detêm hoje o poder no mundo, ela deixou de ter significado. De resto, e como muito bem salientou Álvaro Cunhal há anos, a democracia era uma estrutura dinâmica e de mera transitoriedade. É o que pode já ver-se nestes dias que estão a passar.

Ora, isto foi o que, num destes dias, João Cravinho referiu ao i: há um desprezo absoluto pela democracia, com o FMI a arrogar-se do direito de dizer, dentro de cada país, quem deve ter maior carga! E completou com grande acerto: nem a Inglaterra vitoriana, no auge do seu poder, ousou ser tão imperial como o FMI.

É claro que é urgente substituir o confronto entre posições radicais por uma negociação construtiva, como referiu António Costa. Mas como é que isso se consegue com os dirigentes da União Europeia de hoje, com o desinteresse das pessoas pela mentirosa democracia instalada e com um povo a viver uma miséria inenarrável, para mais tendo aderido à CEE numa situação distorcidíssima, mas que todos conheciam e continuaram, nas calmas, a conhecer?

Até Sérgio Sousa Pinto, depois do dislate sobre a candidatura do académico António Sampaio da Nóvoa, reconheceu que, melhores ou piores, as propostas gregas poderiam ter sido apresentadas por qualquer partido social-democrata ou democrata-cristão, sendo bom que os gregos façam algo em que são realmente bons, e que é no sacudir do jugo externo.

Por fim, Manuel Alegre, igualmente descontente com as tomadas de posição dos (ditos) socialistas europeus perante a Grécia: gostaria de ver os (ditos) socialistas europeus com uma posição mais firme, porque uma situação destas não pode ser abordada com posições meias-tintas.

Bom, sendo isto uma realidade, também o é que só se chegou a esta situação graças ao colaboracionismo total dos partidos da extinta Internacional Socialista com o ambiente capitalista pós-comunista. Invariavelmente ligados à grande estratégia dos Estados Unidos, esses partidos da extinta Internacional Socialista acabaram por ser um importante esteio na estratégia de destruição do bem-estar material que é essencial à dignidade humana. A democracia acabou por ser um ingrediente essencial à colocação em causa do modelo perfilhado no espaço do comunismo. Terminado este, deixou a democracia de valer, embora seja essencial mante-la, pelo efeito anestesiante em que se constitui, dando uma sensação de que os povos escolhem o seu destino. Uma farsa. Mas uma farsa essencial aos detentores da atual riqueza do mundo. O resto são espasmos e concidadãos iludidos.

Não deixa de ser um pouco ridículo que Alegre, Cravinho e tantos outros se regozijassem com o triunfo do socialismo democrático sobre o comunismo totalitário, para agora (com razão!) virem dizer que a democracia é espezinhada pelos seus colegas de percurso...democrático. Uma fantástica pândega!

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