A ditadura da União Europeia

|Hélio Bernardo Lopes|
Tornou-se já claro para quase todos que a União Europeia passou a ser uma ditadura sobre democracias. Uma realidade transmitida por Diogo Freitas do Amaral, na passada quinta-feira, a quantos estiveram presentes em certo encontro de Lisboa, onde se abordou a questão grega.

Tratando-se de uma indiscutível verdade, sempre me pareceu que a União Europeia – foi tendo diversas designações –, mormente aí pelo meio da década de oitenta do passado século, iria caminhar para um indiscutível centro de incompatibilidades, de subjugações e de conflitos. Conhecendo bem a História de Portugal, bem como a evolução por via da qual a Europa se foi gerando, sempre propendi para as ideias antes referidas: incompatibilidades, subjugações, conflitos.

Quando a ideia de Portugal aderir à Europa se foi desenhando, foi-me dado ver que nada se analisava nem estudava ao redor dessa iniciativa. E quando referi o que já se estava a passar com a Grécia, a resposta foi simplesmente a de que as situações eram diferentes. E, em boa verdade, esse é que era o problema: a situação de cada Estado da Europa era uma típica, com um passado histórico próprio, e não seria esquecido por via de uma fictícia União Europeia.

Olhando hoje para trás, percebe-se mesmo que, no plano estritamente técnico, também tudo foi sendo feito a anos-luz das melhores práticas. Todos agora dizem isso mesmo, embora as melhorias se façam lentamente – ao contrário das piorias, que surgem e se desenvolvem rapidamente. Além do mais, esta União Europeia foi completamente construída à revelia da prática democrática, rapidamente acabando o seu poder por vir a dimanar da Alemanha, com a subordinação dos restantes Estados. A prova mais evidente – até já publicamente reconhecida por políticos diversos – são as eleições para o Parlamento Europeu, hoje plenamente reconhecidas como de segunda, sem prestígio ao nível do imaginário coletivo.

Com o fim do comunismo, naturalmente, operou-se o triunfo neoliberal. Deixou, pois, de ser importante a prática democrática, de resto apenas fortalecida, tal como a Doutrina Social da Igreja Católica e como o Estado Social, com a finalidade de retirar potencial de vitória aos movimentos ditos de esquerda, mormente comunistas.

Sendo esta a realidade, claro que a União Europeia passou a ser uma ditadura sobre democracias. Simplesmente, pensando um pouco, usando de um mínimo de honestidade intelectual e evitando tomar decisões importantes, com consequências estratégicas para Estados e seus povos, a todo o gás, logo se perceberia que uma Europa Federal nunca seria possível: existiam religiões diferentes, monarquias e repúblicas, línguas e culturas distintas, etc..

Hoje, sem o tal inimigo externo – as mãos que fazem mexer o Estado Islâmico são diversas e ainda não plenamente conhecidas –, o diferente desenvolvimento entre os Estados da União Europeia teria de dar no que deu. Pois se as nossas autoridades tratam a Grécia como se vê, que razões levariam a Alemanha a olhar os outros como irmãos solidários? Tudo passou, pois, a girar, sempre sem ética, ao redor do dinheiro, de quem mais vende e de quem consegue comprar menos, e tudo com o mínimo custo possível. Ou seja: a União Europeia passou a ser uma ditadura sobre democracias. Aliás, estas deixaram de valer e de ter um ínfimo de lógica, como se vai vendo a cada dia que passa.

Por via de tudo isto, a generalidade dos que acreditaram na Europa são já hoje seus dissidentes, dado que esta se tornou numa estrutura punitiva, tal como referiu o académico conimbricense José Reis. A União Europeia tornou-se num pesadelo para a enorme maioria dos portugueses, que simplesmente nada dela sabem. Nem querem saber. Sabem, isso sim, que reinam o desemprego, a pobreza e a miséria, e que muitos dos seus se viram obrigados a deixar o País e a família. Ninguém, com um mínimo de bom senso ou que não tenha interesses inconfessáveis, pode sentir-se agradado com uma tal realidade.

O que o povo grego, na sua generalidade, fez ao escolher o SYRIZA, foi manifestar a sua vontade de ser antes livre um dia, que submisso toda a vida, como referiu Eugénio Rosa. Não pensaram assim os franceses durante a II Grande Guerra, que antes preferiram subordinar-se a Hitler e aos seus militares. Bom, acabaram por vir a ser condenados à morte e executados, com a imagem da França ainda hoje marcada por esse colaboracionismo. Tudo muito diferente do comportamento patriótico dos soviéticos, dos sérvios e de muitos outros.

Infelizmente, nesta Europa de partido único só há lugar para partidos de correia de transmissão. E como sabem bem os portugueses a razão que assiste, nestas palavras, ao académico Francisco Louçã... É, pois, essencial que os partidos do que foi a antiga Internacional Socialista não deixem de assumir uma posição frontal contra esta vergonha e esta ditadura. Mas será isso possível? Muito sinceramente, não creio, porque todo o mecanismo democrático de hoje se encontra culturalmente viciado: perante tais resultados, os mais humildes – a maior parte – deixaram de acreditar no mecanismo da democracia. A abstenção que cresce por todo o lado mostra isto mesmo.

A situação ora vivida pelos gregos, com os seus líderes políticos tão criticados pelos seus homólogos portugueses – e por muitos dos restantes dezoito –, pode bem vir a ter lugar em Portugal. Basta que os interesses dos poderosos da União Europeia entendam que os políticos portugueses façam algo que não lhes convém. E por isso tem José Pacheco Pereira a maior razão quando há dias referiu os casos dos conjurados de 1640, os colonos americanos em 1765 ou a resistência francesa em 1940, em que todos eles escutaram os apelos à razão, todos ouviram ameaças, mas todos eles lutaram contra a realidade que lhes impunham como inevitável. Mas o académico foi ainda mais claro, ao referir que o destino dos gregos não é indiferente, porque houve um governo que resistiu a cortar mais salários e pensões e defendeu o seu pais de ser controlado por estrangeiros, esses tecnocratas pedantes que são os adultos dentro da sala.

Por fim, José Pacheco Pereira salientou que tal como nos exemplos de resistência que marcaram o destino de Portugal, EUA e França, os gregos também podem falhar, mas resistiram em nome da dignidade e do seu país.

Mas vai ter de encontrar-se uma porta de saída. Essa porta, em minha opinião, será a nova grande guerra que eclodirá, mais uma vez, na Europa, nas suas fronteiras e a sul. Talvez também na Ásia e no Pacífico. Percebe-se facilmente que o Ocidente trabalha nesse sentido. Isto, caro leitor, é que é a União Europeia a funcionar. A tal que, supostamente, se destinaria a criar a paz e a promover o desenvolvimento dos seus povos. É o que se vê...

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