Pêlo menos é Verão

|Tânia Rei|
Para os mais distraídos, já começou o Verão. Sei bem que tem passado despercebido porque tem chovido, trovoado, nevado (no Evereste, certamente) e está vento, o que para ir estender a toalha ao sol é uma chatice.

Bom, distracções à parte, está aberta a época veraneana, o que significa patuscadas com os amigos, cervejas, bebidas estranhas que queremos experimentar, protector solar no tabliê do carro, corridas para manter a forma, chinelos de enfiar no dedo, noite a rebolar na cama com o calor e poucas horas de sono, dada a quantidade de festas que há. Para as mulheres, e para muitos homens mais modernos, é uma época também de tortura absoluta, porque é necessário conter a camadona de pêlos que teima em sair de todos os interstícios corporais.

Depois, temos que optar – ou andamos ao natural, e assumimos que ter tufos de pilosidades de vários tamanhos, cores e feitios é normal; ou marcamos depilações em Janeiro, já a contar com a crescente procura.

Há quem faça tudo em casa, mas, convenhamos, há parte e alturas em que só um profissional nos pode dar uma mãozinha, quando não ajuda a vista ou a posição em que temos de nos colocar para chegar a determinado ponto, e em que dava jeito ter menos quatro costelas ou ter praticado contorcionismo desde pequenos.

Para toda a mulher, há um momento marcante de vida, que é quando percebe que andar com as pernas ao léu como quando tinha seis anos deixa de ser “fofo” e para a ser “grotesco” aos olhos do povo, e que o fato de banho começa a ficar demasiado preenchido, a ponto de transbordar. E depois chegam as hormonas adolescentes e as loucuras da época, e ninguém quer ouvir “ah, é a tua perna, caramba! Pensei que era o Tareco”. Para os rapazes, deve ser chato quando há tanto pêlo que saltam as camisas e se metem nas casinhas dos botões, ou parece tentaram roubar um tapete, mas metade do artefacto fica de fora.

Contudo, e numa altura em que, felizmente, apelam para que sejamos naturais, há movimentos e pessoas que testemunham uma vida sem lâminas, cera quente ou cremes. Sim, há mulheres que já desistiram de rapar as pernas, as axilas e, certamente, outras partes do corpo, em nome de uma vida sem pudor corporal, onde podemos vestir uma saia, um vestido ou uns calções sem pensar que só tínhamos hora no salão de estética para a semana. Porque deixa de importar para esta pessoas o que os outros pensam sobre elas.

Isto leva-me a pensar que, por exemplo, os namorados tendem a não se importar com os pêlos das namoradas, e vice-versa. E que, li algures (e parece-me verdade) uma mulher bem resolvida não precisa de estar depilada para aproveitar um encontro escaldante. Aí os pêlos não interessam, porque estamos a confiar que quem nos olha para os ditos está a olhar para a pessoa por detrás da felpa.

Ou seja, esta nova tendência é como estabelecer uma relação de intimidade e confiança com todo o mundo. Há pêlos a cobrir o dedo grande do pé, mas que importa? Olhemos antes para os sapatos, ou aquilo que conseguirmos ver do rosto. Vivamos menos o pêlo e vivamos mais o Verão.

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