Concidadãos lúcidos

|Hélio Bernardo Lopes|
Como se tornou já evidente aos que acompanham a nossa vida pública, certos barões do PS estão a anos-luz de aceitar alguém que não venha da máquina do partido. 

Uma evidência que também atravessa gente do PSD. Até porque o Centrão é (e desde há muito!) uma omnipresente máquina de interesses. Um Presidente da República independente dos partidos é um risco para os grandes interesses instalados. Interesses que passam, precisamente, pelo Centrão.

Perante o silêncio de António Guterres, rapidamente se percebeu que o PS não dispõe, no seu seio, de ninguém que possa ombrear, por exemplo, com Marcelo Rebelo de Sousa. Mau grado tal, a verdade é que o pânico levou militantes do PS, ou gente que lhe é próxima, a propor o inimaginável. Foi assim que se pôde ouvir Vital Moreira e Francisco Assis voltarem à liça com o nome de Jaime Gama. Para nossa sorte, este antigo líder do Parlamente tem a lucidez suficiente para se dar conta do que também Ascenso Simões agora nos explicou: Jaime Gama seria um bom Presidente da República, mas é um péssimo candidato, porque entre uma coisa e outra há um enorme oceano, sendo que num sufrágio universal Jaime Gama nunca será Presidente da República. Bom, a evidência fortíssima!

Quem acompanha o que escrevo, de há muito se terá dado conta de que eu digo isto mesmo e há já muito tempo. Semanas – muitas –, ou mesmo meses. E quem diz Jaime Gama, diz Maria de Belém, António Vitorino ou Luís Amado. Simplesmente risível! E risível porque o PS de há muito perdeu uma enorme parte da sua credibilidade, dado que nunca foi garantido, com clareza inequívoca, que o seu regresso ao poder assegurará o regresso do Estado Social.

De molde que se coloca a questão: quem apoiar para próximo Presidente da República? Como muitos se recordam, houve já quem pensasse em António Ramalho Eanes, mas que logo garantiu não ir por aí. Nestas circunstâncias, como que surgido do nada, eis que nos começou a surgir nos nossos canais televisivos, nestes últimos dias, até mesmo sucessivos, Diogo Freitas do Amaral...

O discurso adotado nas entrevistas concedidas, a uma primeira vista, colocam-no na defesa do Estado Social. Simplesmente, o Presidente da República não governa, sendo que se o PS estiver determinado a assegurar que o mesmo será reposto, então, deve assumi-lo e rapidamente. Por outro lado, Diogo Freitas do Amaral também se nos vai mostrando muito defensor da Grécia e dos gregos, tendo mesmo exposto a Vítor Gonçalves que o SYRIZA não é um partido radical de esquerda, nem o seu parceiro de coligação o é de extrema-direita. Uma verdadeira bonomia.

Mas o mais significativo é que nenhum dos jornalistas lhe perguntou se recusa, liminarmente, ser candidato ao Presidente da República. Haverá de compreender-se que tal tem de conter um enorme significado. De molde que pergunto o que, pensando desde há meses, nunca escrevi: e se surgisse Diogo Freitas do Amaral como candidato ao Presidente da República, e logo apoiado pelo PS, PSD e CDS/PP, três partidos traquejadíssimos na prática do pinote?

Como se torna evidente, sempre pensei – e escrevi mesmo – que Diogo Freitas do Amaral bem merecia ter sido Presidente da República. Desde logo, nunca se teria chegado à lamentável situação do tempo que passa. Hoje, porém, ele comporta um risco, embora mínimo: a ideia de tornar o voto obrigatório. E a razão é simples e já foi por mim tratada no meu texto, A CONFISSÃO DE UM FALHANÇO: por essa via, acabaria por esconder-se o real e crescente descontentamento dos portugueses com o modo como a nossa classe política do dito arco da governação tem criado a desgraça à generalidade dos portugueses. Com o voto obrigatório, para lá de passar mais escondida a desaprovação dos portugueses com a ação política, também se acabaria por abrir a porta a perigosas manipulações...

Por fim, é muito desagradável andar-se já à procura de possíveis questiúnculas antigas, como a da reprovação de José Luís Saldanha Sanches na sua prova de agregação, ou sobre o que fez ou desfez António Sampaio da Nóvoa neste ou num outro dia da sua vida. Até porque recuando ao tempo da II República, não faltam pinotes e casos fantásticos. E por isso tenho manifestado, por vezes diversas, o meu lamento por não termos já na nossa companhia o histórico académico, Raul Ventura. É pena.

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