Não dá para acreditar

|Hélio bernardo Lopes|
Como se sabe bem, quando se é político, tem de mostrar-se visibilidade. Ser político sem ser visto ou ouvido, é uma função ausente, mesmo inexistente. É natural, pois, que os políticos apareçam, se mostrem, sorriam ou se zanguem, e nos dêem os seus palpites para os grandes problemas da vida em sociedade. Sendo esta a realidade, parece ser o caminho que está a ser seguido por Rui Rio.

Simplesmente, é essencial que os políticos intervenham com posições lógicas e realistas, evitando dizer o que se sabe não poder nunca vir a ter lugar. Ou, vá lá, se nos mostre como algo com uma probabilidade baixíssima de poder ocorrer. Ora, foi isto, precisamente, que há dias não se deu com Rui Rio, ao tecer considerações sem um ínfimo de fundamento.

Embora inutilmente, tem razão Rui Rio quando nos refere que os partidos estão desacreditados. Simplesmente, também estão cabalmente desacreditadas a generalidade das instituições. Basta olhar, por exemplo, o que nos é revelado por sucessivas sondagens, sejam no respeitante aos partidos, seja no que se prende com a generalidade dos órgãos de soberania. A própria democracia de há muito perdeu reconhecimento, tal como a União Europeia e o euro. De resto, os portugueses nunca puderam pronunciar-se sobre nada disto, limitando-se a comer e calar.

Mas onde Rui Rio logo perde a razão é quando diz que Portugal estará exposto a um fenómeno do tipo SYRIZA se o fosso entre os partidos moderados e os cidadãos se acentuar. Bom, caro leitor, trata-se de uma daquelas tiradas muito ao estilo de Rui Rio, porque para que tal pudesse ter lugar seria essencial que os portugueses estivessem muito habituados a combater, como se dá com os gregos, o que se sabe não ser o caso.

Sempre que este tema surge nas conversas, tenho o hábito de apontar o que teve lugar com o retorno de nacionais, nos anos que seguiram a Revolução de 25 de Abril. Normalmente, nas sociedades existem doidos, mas a nossa, no domínio político, nunca os mostrou, logo mesmo nesses anos do retorno maciço de nacionais. Criado o IARN, tudo foi decorrendo na melhor das boas. A própria Revolução de Abril foi também sem espinhas, como usa dizer-se, o mesmo vindo a ter lugar com os acontecimentos de 25 de Novembro. Foi por tudo isto – e pelo restante, claro está – que Amadeu Garcia dos Santos, ao redor do quadragésimo aniversário da Revolução de 25 de Abril, reconheceu que os quarenta e oito anos de Estado Novo foram atravessados tranquilamente. A que se pode juntar o reconhecimento de José Eduardo Sanches Osório, pela mesma data, de que o português é cobarde. Uma evidentíssima verdade!

Contrariamente ao apontado agora por Rui Rio, o que se passou na Grécia com o SYRIZA é que é o normal em democracia, e não o que se passa desde há quarenta anos em Portugal, com tudo sempre de mal a pior, mas com os eleitores a escolherem, clubisticamente, sempre os mesmos. E basta olhar o que se está agora a passar com a eleição para o Presidente da República, para logo se perceber que ninguém liga ao caso um mínimo que seja. Quem tenha a oportunidade de frequentar cafés, como se dá comigo, facilmente percebe que raramente se fala de política, mormente da eleição presidencial.

Ao ler estas considerações recentes de Rui Rio, fica-me a impressão de que o nosso político poderá nunca ter percebido o real significado da escolha de Salazar para maior português de sempre. Dou comigo a cogitar se Rui Rio, de facto, acredita que os portugueses, na sua grande generalidade, ligam um mínimo que seja à política e mesmo à democracia. E porque haveriam de ligar, se o futuro percetível é o de pobreza e miséria, sem porta de saída e sem poderem decidir do mesmo o que quer que seja? Bom, caro leitor, não dá para acreditar!

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