Uma questão capciosa

|Hélio Bernardo Lopes|
Acaba de surgir o resultado de um estudo, em boa medida comparativo, ao redor da predisposição para se entrar em guerra em defesa do país. Percebe-se facilmente que o espetro da guerra está à vista e cada dia mais próximo. 

E o interessante, se assim pode dizer-se, é que um tal cenário, afinal, surge depois do fim do comunismo, já com as ditas democracias por toda a parte, e com uma enorme probabilidade de poder vir a ter lugar...na (dita) democrática União Europeia. Um verdadeiro mimo!

No que a nós diz respeito, o resultado é o lógico e expectável: apenas vinte e oito por cento dos portugueses admite poder vir a pegar em armas para lutar pelo País. É, como facilmente se percebe, um resultado perfeitamente lógico, até porque Portugal não é hoje um país realmente independente, sabendo-se que a democracia está reduzida a mera formalidade sem valor substantivo.

Além do mais, mesmo não conhecendo tais realidades com pormenor, a generalidade dos portugueses sabe que a defesa do Ultramar Português coube a todos, ricos, remediados ou pobres, da esquerda ou da direita, com ou sem estudos, fosse-se filho de quem quer que fosse. Basta referir, por exemplo, o que se deu com um filho de Francisco do Casal-Ribeiro, com um irmão de Teresa Costa Macedo e com filhos de Silvino Silvério Marques e de João de Almeida. Hoje, como facilmente se intui, a ser necessário defender Portugal de uma agressão, essa defesa seria apenas entregue aos humildes.

Para se estar disposto a defender Portugal é preciso senti-lo como elemento comum a uma comunidade humana com História. Essa vivência começou logo por ser deitada por terra com o fim da defesa das antigas províncias ultramarinas, e um pouco adiante com a entrada para a Europa, com enorme perda de soberania e hoje sem futuro, e sempre sem que os portugueses fossem auscultados. Os portugueses percebem, ao menos intuitivamente, que o texto constitucional só por mera forma atribui ao povo o controlo primeiro da soberania, porque tudo é feito à nossa revelia.

O recente caso da vitória grega do SYRIZA mostrou à saciedade como os políticos portugueses preferem hoje estar de cócoras perante a sempre velha e poderosa Alemanha, a ter de apoiar os que foram vítimas da mesma exploração que os gregos, os italianos, os espanhóis, os irlandeses e, mais recentemente, os próprios ucranianos, atirados para uma fogueira de ferro e fogo como a grande maioria nunca terá imaginado. Uma realidade que já teve lugar com a dita Primavera Árabe, por todo o Médio Oriente, e por grande parte da América Latina.

Simplesmente, a pergunta colocada neste estudo, e no que nos diz respeito, é plenamente capciosa, porque não surgirá nunca, de um modo minimamente previsível, uma guerra que envolvesse o País, de modo a poder estar-se disposto a lutar por ele. Um dado é certo: esta resposta dos portugueses sondados é lógica e expectável. Só os tolos continuam, a dizer o contrário. Atacados como e por quem? Só se for nas Selvagens!

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