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|Hélio Bernardo Lopes| |
Nesta minha nota mui ligeira pretendo apenas abordar um aspeto referido pelo autor na página 459 do livro, referindo que o facto de Salazar continuar vivo e a residir no Palácio de São Bento levava a que Marcelo Caetano fosse visto pelas pessoas como uma figura política secundária. Ora, esta ideia, tenha ela vindo de onde quer que seja, nunca correspondeu à realidade vivida pelos cidadãos ao dia-a-dia.
É possível que leituras do estilo pudessem ser feitas por gente muito ligada ao regime, uns satisfeitos com as mesmas, outros furiosos. Mas o que não corresponde à realidade é que tal tema fosse, sequer, alvo das conversas nas convivências correntes. Desde que Marcelo Caetana ascendeu à chefia do Governo, tudo passou a ser analisado apenas ao seu redor e da ação política por si prosseguida.
Objetivamente deixou de falar-se de Salazar. E quando se falava, era para lançar piadas, fossem sobre as botas, ou sobre o timbre da voz, ou coisas do tipo. Em contrapartida, continuava a falar-se de Tomás, sempre referindo que era com th e z no fim, ou para brincar aos discursos, salientando que tínhamos os cacilheiros, etc.. Até a escolha de Tomás para o seu fatal terceiro mandato foi glosada, mas sempre com risadas e piadas. Do que ninguém falava, nas convivências correntes, era de Salazar, mormente no plano político. Nem bem nem mal.
Significa isto, pois, que as limitações que Marcelo Caetano possa ter sofrido na condução da política do Estado nunca resultaram de uma imagem menorizada, instalada ao nível da população. Pelo contrário, porque foi a este nível que granjeou uma enorme simpatia e apoio. Dizia-se até, já depois da Revolução de 25 de Abril, que ele queria, mas não o deixavam...