Sempre que a vegetação, seja ela herbácea, arbustiva ou arbórea (e com ela todo um cortejo de seres vivos e de matéria orgânica associada) invade a dita capa superficial, gera-se um solo, através de um processo a que os especialistas (pedólogos) chamam pedogénese. Trata-se de um processo geodinâmico, dito supergénico porque, à semelhança da biogénese, da gliptogénese (erosão) e da sedimentogénese, tem lugar à superfície da Terra e é, como eles, assegurado pela energia radiante recebida do Sol.
Na “Declaração de Princípios sobre o Solo Português”, apresentada pela Sociedade Portuguesa da Ciência do Solo, em 1975, o solo é um corpo natural, complexo e dinâmico, constituído por elementos minerais e orgânicos, caracterizado por uma vida vegetal e animal própria, sujeito à circulação do ar e da água e que funciona como receptor e redistribuidor de energia solar.
Dos solos mais incipientes e pobres aos mais evoluídos e ricos de matéria orgânica, todos existem porque sempre existiu e existe meteorização das rochas. É comum distinguir solos eluviais ou autóctones, isto é, não deslocados, permanecendo sobre a rocha-mãe, e solos aluviais ou autóctones, formados sobre materiais igualmente resultantes de meteorização mas que sofreram transporte.
Do ponto de vista termodinâmico, o solo é um sistema aberto, que permite trocas de matéria e de energia com os sistemas adjacentes, nomeadamente, a litosfera, a biosfera, a atmosfera e a hidrosfera (aqui representada pelas águas pluviais e de infiltração). Absorve e armazena energia solar, é sede de fenómenos físicos, químicos e biológicos e tende, naturalmente, para um estado de equilíbrio estacionário enquanto se mantiverem as condições sob as quais evoluiu. Localizado na interface destes quatro sistemas, o solo faz a ponte entre a vida subaérea e o esqueleto mineral, abiótico, do substrato geológico, sendo considerado um dos mais importantes ecossistemas do planeta.
Tal dinâmica ficou bem clara na afirmação, segundo a qual “à meteorização geoquímica, envolvendo apenas a alteração das rochas, segue-se a meteorização pedoquímica”, avançada, em 1953, pelos pedólogos norte-americanos Marion Jackson (1914-2002) & George Sherman (1904-1973).
A.M. Galopim de Carvalho
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