E vai daí?

|Hélio Bernardo Lipes|
Como tenho tido a oportunidade de referir com uma frequência mínima, a enorme maioria dos portugueses vive completamente alheada da Operação Marquês, que envolve, entre outros concidadãos nossos, o ex-Primeiro-Ministro, José Sócrates. Como usa dizer-se, tenho mais que fazer, mesmo já aposentado. 

Simplesmente, este caso veio mostrar um dado simples: há um conjunto de portugueses, em geral envolvidos na vida política, que entende que um caso judiciário que possa envolver um antigo líder do Governo deve, a este nível, desenvolver-se de um modo diferente, muito mais singular. Todos iguais, obviamente, mas logo diferentes se o problema envolve um amigo político de muito alto nível. Com ou sem culpa.

Um dos nossos concidadãos que mais se tem batido em defesa da inocência de José Sócrates é Mário Soares. De molde que não lhe têm faltado afirmações indiscutivelmente sem grande nexo, que, como teria de dar-se, já começaram a fazer moça. Achei até graça a um título noticioso de um grande diário nacional, que dizia que Mário Soares arrisca processo por ameaçar juiz. Bom, caro leitor, sorri com gosto, à conversa com o amigo com quem li o referido título.

Objetivamente, nem eu, nem mesmo ninguém português poderá acreditar que um processo venha a ser instaurado contra Mário Soares, a quem quase tudo vem sendo tolerado e desde há muito. A própria Associação Sindical dos Juízes Portugueses veio a terreiro salientar que as considerações de Mário Soares poderão configurar uma ameaça ao juiz Carlos Alexandre.

Simplesmente, os juízes portugueses vieram salientar não poder silenciar a ameaça proferida ao juiz Carlos Alexandre, por um conselheiro de Estado, lamentando profundamente tais declarações. Repare o leitor que os juízes portugueses, depois de expor o seu ponto de vista, limitaram-se a lamentar profundamente as declarações de Mário Soares...

Ora bem, caro leitor, perante este comunicado e estas palavras daquela associação, é-me legítimo perguntar: e daí? Porque o próprio juiz Carlos Alexandre terá preferido desvalorizar o caso. Portanto, em que se fica? Por mim, simplesmente não acredito – nunca acreditei – que um antigo Presidente da República possa ser acusado e presente a juízo, e quase seja pelo que for.

Para qualquer português que esteja a ler este meu texto, a sensação deve ser idêntica. Pois se com um antigo Primeiro-Ministro as coisas atingiram já o plano que se vê, imaginamos todos o que não seria acusar, por exemplo, Mário Soares, e fosse pelo que fosse... De molde que termino como iniciei: e então?

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