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| |Tânia Rei| |
Olhamo-nos ao espelho, e vemos um deus. Pessoas sem mácula, onde é quase profano crescer uma borbulha. Tendemos a não sermos maus, a não ter atitudes passíveis de recriminar, a ter uma índole perfeita num mundo de seres imperfeitos. É isto verdade? Claro que não.
O que acontece é um puro acto de egoísmo. Algo está podre no mundo, só que nunca somos nós.
Vemos as atitudes alheias com os nossos olhos, e isso é o que chega para julgamentos errados. Não conseguiremos, portanto, conviver apaixonadamente com quem nos rodeia porque nos falta assumir mais vezes as nossas falhas e limitações. As nossas birras, também. Queremos e não temos – é o que chega para caírem prédios e abrir mares.
“E depois sabes o que ele fez?”. “Não!!!” – e abrem-se bocas de reprovação, enrugam-se testas. “Nunca pensei que fosse capaz disso. Eu nunca faria uma coisa dessas” (citações de discursos de rua, de vidas alheias, que se multiplicam em contacto com a luz, a água e o ar). A primeira pessoa a conhecer no universo, com ET’s incluídos, somos nós mesmos. Um olhar para dentro.
Conhecermo-nos é mais do que dizer que somos “simpáticos, amigos do amigo e teimosos”. Isso é definição de revista. Não é essa que devemos buscar. Devemos antes procurar uma de dicionário (e não falo do dicionário de nomes que se pesquisa no Google).
E o auto-conhecimento é uma esfrega daquelas! Aí se é! É como receber um choque eléctrico, o tal “olhar para dentro”. Podemos encontrar aquilo que sabíamos que tínhamos, só não sabíamos onde, ou descobrir um monte de pó, varrido copiosamente para debaixo de um tapete.
Conhecer o nosso “eu” é o primeiro passo para conhecer o “tu” e o “ele”. Às vezes, vem o “nós”, que depois passa a “vós”. Ou nunca sai do “eles”, pelo menos com a certeza de que nunca trairemos o nosso coração. E, desta forma, é bem mais fácil conjugar o verbo “viver”.
