|Luis Pereira| |
Tudo está seco e árido e os sonhos mirrados e os teus olhos tristes e as crianças sisudas. É assim o meu país de eternas promessas e gente boa que não merece esta dor. E eu a perguntar-te pelo sonho e pelas promessas que a nós mesmos fazíamos quando vertíamos o vinho num minúsculo rectângulo de poesia.
“Aqui está o meu sonho, quero oferecer-to”, dizias-me, e depois enrolavas os teus cabelos ao sol nos meus olhos espantados. E eu prometia-te a protecção eterna e essa imensa paixão vivida em liberdade!
Depois saíamos à rua para aspirar os rostos que connosco gritavam a justiça desejada. E se fosse preciso incendiávamos o corpo num clamor de revolta. E tínhamos a certeza do futuro e da utilidade da nossa luta.
Pelo sonho é que íamos ao encanto da acção, e éramos felizes no nosso país livre, onde gastávamos escudos em vinho, sandes e sopas que saciavam uma fome ainda jovem.
Que nos aconteceu então? Porque deixamos secar o nosso campo de rosas bordejado de cravos? Porque deixamos crescer a erva daninha em redor do nosso coração? Porque deixamos que o nosso país se transformasse nesta miséria cinzenta onde imperam inescrupulosos verdugos? Porque te esqueci? Porque me esqueceste?
Talvez já seja tarde, mas não desistas. Sonha, luta, age, ama!
E não duvides, e não vaciles, porque enquanto eu viver terás para ti esta pequena ilha de liberdade.