![]() |
| |Hélio bernardo Lopes| |
Uma fantástica manifestação do amplíssimo direito à asneira que a todos é concedido, mesmo a uma eurodeputada, embaixadora de carreira e pessoa já muito traquejada na militância política!
Ana Gomes não conseguiu perceber a cabalíssima razão que se contém nas palavras de Salman Rushdie, recentemente proferidas numa palestra que fez nos Estados Unidos. No fundo, deixou-se levar pela ideia induzida pelas palavras do Papa Francisco nesta recente viagem de avião. Tendo razão em tudo, Francisco, falhou, porém, na conclusão que induz, e que é a que se tem visto nos nossos comentários televisivos.
Na organização social dos países ocidentais, de um modo imensamente geral, cada um escreve e comenta como entende. A lei estipula os casos considerados inaceitáveis. Quem se sente lesado, ou simplesmente não liga – é o melhor –, ou, em alternativa, recorre ao árbitro social, que é o Sistema de Justiça. O que não pode é recorrer à justiça por mãos próprias. E o Papa também o disse.
Em boa verdade, o que Ana Gomes acaba por defender é uma prática de autocensura. Desta vez, a causa é o ferimento da suscetibilidade dos islamitas perante os cartoons, mas e se o ferimento for o ser-se infiel, como os fanáticos do Islão dizem ser o caso dela e de todos nós?
Se hoje nos calarmos com as caricaturas, amanhã os fanáticos do Islão virão exigir o fim do bikini, ou da mini-saia, ou que as mulheres usem o lenço, etc., etc.. A nossa regra é a máxima liberdade com a máxima responsabilidade, aferida esta, em caso de conflito, pelo tal árbitro social. Ainda hoje recordo bem o nosso caso d’AS HORAS DE MARIA...
Depois desta tomada de posição de Ana Gomes ficou-me esta impressão muito forte: se a eurodeputada continuar a perorar de modo frequente sobre este tema, o seu partido acabará, por aí, por sofrer uma erosão eleitoral muito forte. Ana Gomes não foi capaz, sequer, de salientar que a atual estrutura de controlo social no espaço europeu dispõe já, e cabalmente, das informações de quem tenha saído e regressado de lugares perigosos do Mundo. As autoridades conhecem perfeitamente quem saiu e regressou desses lugares, pelo que de há muito deveriam ter aplicado a tais pessoas métodos muito diretos – invasivos –, a fim de lhes limitar o grau de liberdade no uso do mal.
Fiquei verdadeiramente estupefacto com estas palavras da eurodeputada, porque elas, para lá de deitarem para o cesto do lixo o que Rushdie expôs agora nos Estados Unidos – e como ele tem razão...–, também passou por sobre as perigosas consequências da brincadeira que se contém no exemplo do Papa Francisco: se por se ofender a Mamã, pode levar-se um punho, pode o autor deste correr o risco de matar quem praticou o tal (dito) insulto à Mamã. Bom, são muitos anos de prisão, e por nada de verdadeiramente duradouro e marcante...
O problema é que o Papa Francisco não disse um outro dado: estas reações, de um modo imensamente geral e universal, são só com militantes islâmicos. Serão uma minoria, mas não surgem católicos, anglicanos, luteranos, judeus, hindus ou ortodoxos com cenas destas em sociedades de há muito entradas no tempo da Modernidade. Claro está que o Papa Francisco também não podia dizer o que todos já hoje percebem: os islamitas, de um modo muito geral, não se adaptaram à Modernidade. Bom, caro leitor, fiquei deveras espantado com as palavras de Ana Gomes neste debate!!
