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| |Hélio Bernardo Lopes| |
Dado que a História se repete, embora com adequações à realidade de cada tempo, de pronto me surgiu ao pensamento uma histórica sequência de acontecimentos bastante similares aos agora vistos em França e já anunciados para lugares diversos do mundo. Essa sequência de históricos acontecimentos são os que se prenderam com a Estratégia de Tensão, posta em prática pela direita ocidental anticomunista através de estruturas sob a batuta da OTAN e de grupos secretos ligados à direita desse tempo.
O dito risco desses anos era o comunismo, centrado na extinta URSS. Hoje, como mostrarei adiante, esse risco é o Islão, com o espaço dos seus seguidores. Sendo assim, eu não posso deixar de recordar a referida Estratégia de Tensão, que tantos atentados terroristas operou no espaço europeu, desde a Bélgica à Itália. Atentados com muitas dezenas de vítimas, mortais ou simples feridos, com maior ou menor gravidade.
Até o que se passou com as Brigadas Vermelhas foi estranho, com o atentado inacreditavelmente consentido de Aldo Moro, para logo depois, na sequência do noticiado rapto do major-general James Dosier, da OTAN – norte-americano –, se ver a liderança daquela estrutura ser detida, dando toda essa estrutura à morte, e sendo por isso recompensada com a mudança da sua identidade e posterior colocação milionária numa outra latitude e longitude secreta. Haverá de compreender-se que dá que pensar...
A verdade é que se chegou aos dias que passam, sendo que já poucos duvidarão de que a democracia não passa já de mera fachada e formalidade. Mesmo apenas como anestesiante, a democracia de há muito perdeu o seu efeito, porque com a barriga a dar horas com a certeza da falta de futuro, dificilmente um qualquer anestesiante conseguirá ter um ínfimo de êxito. Basta olhar-se o que está a passar-se com as eleições na Grécia, e de pronto se percebe, sem dúvidas, que uma eleição democrática pode muito bem ser vista com maus olhos pelo poder que domina à revelia das populações.
Acontece que pela evolução natural das coisas o mundo do Islão apresenta taxas muito amplas de crescimento demográfico, situação precisamente inversa da que tem lugar nos Estados do Ocidente. O mesmo se está a dar nos Estados Unidos, com a crescente onda de nascimentos e de votantes negros e de origem hispânica. Pois, o resultado está à vista, já com o claro regresso do racismo. País com a maior taxa de presos per capita, os Estados Unidos apresentam, no mundo prisional, como presença maior a de negros e hispânicos. Significativo, portanto…
O receio dos europeus face ao Islão e ao seu conhecido poder de expansão demográfica pôde ver-se, por exemplo, com o abandono da ideia de deixar entrar a Turquia para a União Europeia. E, de facto, no prazo de uma geração o espaço do Islão bem poderia vir a atingir, na União Europeia, níveis por muitos não imaginados. A grande verdade, contra o que vai sendo sempre apregoado – e até quando?...–, é que o Principio da Liberdade Religiosa só é aplicável, em certo espaço de homogeneidade cultural, enquanto os fundamentos histórico-religiosos do mesmo não se vêem à beira da ultrapassagem por uma outra comunidade de origem histórico-religiosa diversa. O resto são tretas de circunstância.
Ora, nestes últimos tempos, sobretudo depois do massacre contra a vida de milhares em Gaza – crianças e velhos, homens e mulheres, gente boa ou gente má – por parte de Israel, cresceu rapidamente o reconhecimento de que se impõe o nascimento do Estado da Palestina, com a consequente entrada nas Nações Unidas e com a sua adesão ao Tribunal Penal Internacional. Bom, Israel chegou ao ponto, sempre apoiado nos Estados Unidos, de avisar que não entregaria ninguém àquele tribunal! Em boa verdade, nem Israel nem os Estados Unidos reconhecem, no momento que considerem oportuno, o Direito Internacional Público nem as suas instituições representativas. São muito importantes, mas para os outros... É também esta mudança europeia a caminho da defesa do Estado da Palestina, de parceria com a sua adesão ao Tribunal Penal Internacional, que explica a ausência de uma personalidade norte-americana de vulto em Paris, no passado domingo. E o líder israelita só esteve presente porque tal lhe permitiria cavalgar sobre o risco do surgimento do Estado da Palestina. Sendo um líder fraco, Hollande, apesar de tentar, não conseguiu impedir o que desejou: a presença do líder israelita em França. No meio desta realidade global, surgiu o designado Estado Islâmico, cujos membros onde entram e saem com a maior naturalidade na Europa de de quase toda a parte, sem que ninguém dê por isso... Para os que assim acreditam, claro está. Chegou-se mesmo ao ponto de ver a referida estrutura penetrar na rede informática do Pentágono, ou algo assim!! Embora, como de pronto se noticiou, sem maus resultados... Mas será que alguém com bom senso consegue acreditar em tal historieta?!
Por fim, o Papa Francisco. Pela sua capacidade de compreender o abismo para que está a ser atirada a espécie humana pela mão de uma minoria criminosa e gananciosa, e por não se cansar de abordar tais omnipresentes e dolorosas realidades, ele começou a tornar-se incómodo. Não por razões doutrinárias, dado que a generalidade dos católicos só o é por tradição, naturalmente eivada de uma grande ignorância doutrinária. Sim porque a apresentação permanente desta realidade, com a natural defesa da importância da vida e da dignidade humana, começou a causar perturbação. Vive-se o tempo do dinheiro, venha ele de onde vier, e não da defesa da dignidade humana.
Por tudo isto, a manutenção da democracia constitui hoje um risco para os grandes interesses que se apoderaram das rédeas do mundo. Até aqui, parecia ainda valer a pena mantê-la em vigor, dado que a mesma se poderia constituir num anestesiante para as grandes massas de cidadãos. Simplesmente, mesmo sem desejar viver à grande, a generalidade das pessoas do mundo pretende não viver na pobreza e na incerteza perante o amanhã. A democracia, pois, passou a constituir um risco, já não funcionando como anestesiante. É o que está a ver-se com o caso das eleições na Grécia. E mesmo a soberania dos Estados e dos seus povos, sem consentimento para tal, é hoje uma cabalíssima nulidade. Já não existe.
Mas o leitor dispõe de um instrumento de controlo para perceber o que está a passar-se, e que são as mudanças que irão agora ter lugar no domínio das liberdades. Note como, num ápice, o Estado Islâmico parece surgir por toda a parte. Não chega a ver-se, ao menos no Ocidente, mas é apontado como estando por toda a parte. Os comissários que, no entretanto, o averiguaram – no caso de há um ano e pouco e neste, do Charlie Hebdo –, suicidaram-se. Dizem-nos que foram vítimas do stress! E nunca se havia dado por isso...
A democracia já não existe – quase nunca existiu –, sendo que se ninguém nada fizer, a dimensão populacional do espaço do Islão ultrapassará a dos católicos e a dos judeus. A guerra religiosa está em curso de desenvolvimento, como também já havia referido ao redor do caso do avião malaio abatido por gente de Kiev.
Convém, logo que publicado em Portugal, ler com toda a atenção a obra, SUBMISSÃO, de Michel Houellebecq. Estou firmemente convicto, do que da mesma conheço, que será um excelente elemento de reflexão e de fortíssimas discussões e trocas de impressões. Um dado é certo: nestes casos – dos aviões malaios e do Estado Islâmico, o que parece não é...
