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| Miguel Torga- Foto Wikipédia |
Um campo de investigação prioritário «seria inscrever Torga na cultura europeia do seu tempo» e «arrancá-lo da visão paroquial e provinciana», disse o professor catedrático, sublinhando que seria necessário «abordar o diálogo» que o escritor natural de Trás-os-Montes teve «com importantes nomes da cultura europeia como Homero, Montagne ou Camões».
Segundo José Augusto Bernardes, Torga está prisioneiro de lugares comuns, como «o Torga telúrico», ligado à terra, «o Torga resistente» ou ainda a «imagem muito cristalizada» de ser um «autor sobretudo juvenil».
Porém, o director da Biblioteca Geral frisou a importância deste escritor «para o adolescente de hoje», por evocar, na sua obra, «um mundo em extinção» - o Portugal rural -, podendo os seus livros servirem «de contraponto à realidade» actual. «Torga faz mais sentido hoje que no meu tempo», observou.
O autor, que morreu a 17 de Janeiro de 1995 em Coimbra, «era um mestre da pergunta», com contos que deixavam uma «sensação de perplexidade» - «um homem que nunca procurou alinhamentos», durante ou depois do Estado Novo.
«É uma figura da nossa comunidade, que atravessa o século XX. Um homem de coragem, que conhecia o país e Portugal no mundo», frisou.
Ana Paula Arnaut, também docente de Literatura Portuguesa na Faculdade de Letras da UC, salientou o olhar «extraordinário» de Torga em relação a um «Portugal específico», sendo fundamental para se saber «o que foi o Portugal ditatorial, mas também o Portugal pós-25 de Abril».
Os seus diários, bem como a poesia e os contos, oferecem «um manancial de interpretações», sempre em torno de temas universais, «mesmo quando trata de Trás-os-Montes», referiu.
Corroborando com José Augusto Bernardes, a professora considerou que Miguel Torga se assumia como «um purista da Língua portuguesa», que tentava «alcançar a perfeição».
Apesar de ser «um dos grandes nomes» da literatura portuguesa, a academia «tem esquecido um pouco Torga», bem como o mundo editorial, que «não tem feito a devida divulgação», frisou Ana Paula Arnaut.
Ao longo da sua vida, publicou livros como «Bichos», «Criação do Mundo» ou «Novos Contos da Montanha», tendo sido traduzido em diversas línguas.
Fonte: Agência Lusa
