Contradições

|Hélio Bernardo Lopes|
Como pude já expor, eu escolheria sempre José Sócrates em desfavor de Pedro Passos Coelho como Primeiro-Ministro de Portugal. E isto para lá de questões laterais diversas, tanto com Sócrates como com Passos. 

Simplesmente, eu também darei sempre o benefício ao juiz Carlos Alexandre face a José Sócrates. Até mesmo o de Rosário Teixeira.

Vem isto a propósito da afirmação de ontem de Mário Soares em Évora, depois de ter visitado José Sócrates pela terceira vez. Diz o ex-Presidente da República que José Sócrates, tal como se deu consigo, é um preso político. E exigiu, mais uma vez, que o Presidente Cavaco Silva tomasse uma posição sobre o caso que envolve José Sócrates. Bom, para lá de eu não concordar com tais argumentos, o próprio advogado de João Perna já hoje reconheceu também que José Sócrates não é um preso político. E é a realidade.

É claro que o Presidente Cavaco Silva é o mais impopular de todos os líderes do Estado na III República. E também tem razão quando salientou que Portugal já hoje não é uma democracia social. Simplesmente, eu sempre percebi o desastre em que iria dar o apoio de Mário Soares a Pedro Passos Coelho, ao tempo da anterior eleição para deputados à Assembleia da República. De modo que interrogo: como não conseguiu Mário Soares perceber o desastre para que os portugueses seriam atirados com uma Maioria-Governo-Presidente de direita?!

Mas Mário Soares disse ainda, no seu escrito mais recente, que Aníbal Cavaco Silva foi um salazarista convicto no tempo da ditadura. É muitíssimo provável que tenha razão, mas a grande verdade é que a ação política do Presidente Cavaco Silva não se encontra determinada por esse facto. É enorme o conjunto de portugueses que foram defensores estrénuos de Salazar e da II República, mas que desejam – e sempre desejaram – o progresso social dos portugueses. Como enorme é o conjunto de gente hoje adepta do PS ou do PSD e que nunca mexeu um dedo para que o regime constitucional da II República fosse derrubado. A grande razão de se ter chegado ao atual estado de coisas tem residido nos portugueses, muito em particular nos por mim designados de há muito de trafulhas da História. E também no próprio PS, que logo cedo meteu o Socialismo na gaveta, transformando-se no grande porteiro do regresso da direita ao poder.

Achei uma graça enorme à referência de Mário Soares a Adelino Amaro da Costa, certamente esquecido das declarações deste a propósito do fim do segundo Governo de Soares: unimo-nos ao PS para os destruir. E tem a mais cabal razão quando refere que Portugal como Estado está ultradiminuído, com o Governo [...] absolutamente paralisado e sem saber o que fazer. Bom, é a evidência, mas que resulta de terem de se operar eleições.

Por fim, o que deverá certamente ser a grande esperança de Mário Soares e dos portugueses interessados em que se ponha um fim no sufoco que tem vindo a ser vivido desde há perto de quatro anos: vem aí um Governo do PS, pelo que toda a destruição do Estado Social vai ser invertida, como os portugueses tanto anseiam. Estaremos todos atentos ao que virá a dizer depois Mário Soares.

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