![]() |
| |Hélio Bernardo Lopes| |
E hoje também da Alemanha, no seio desta fantástica mascarada que é a dita União Europeia. Uma realidade que vem a propósito da recente decisão americana sobre a Base das Lajes.
A este propósito, repito aqui o que já em tempos contei num outro escrito. A poucos dias – um ou dois, talvez três – da invasão de Goa, Damão e Diu pelo exército da Índia –, ao arrepio da real vontade de Nehru –, teve lugar uma reunião do Conselho de Ministros. Terminada esta, Luís Supico Pinto dirigiu-se à sede da PIDE, onde se reuniu com o matemático meu amigo, já por mim bastamente referido, com Silva Pais, Barbieri Cardoso e mais um ou outro.
Ao fim de algum tempo, o matemático decidiu ausentar-se da reunião, dirigindo-se à embaixada dos Estados Unidos, onde se encontrou com o residente da CIA em Lisboa, e que era o major Albert. Usou, então, do bluff, contando ao seu amigo que Salazar, com o apoio do Governo, havia tomado a decisão de abandonar a OTAN no caso de vir a ter lugar a invasão sem que os Estados Unidos se lhe opusessem.
Contou-me o meu amigo matemático, em sua casa e muitos anos depois, que Albert ficou em pânico, de imediato se dirigindo para a sala de encriptação, de onde informou Langley e a Secretaria de Estado do que Salazar (supostamente) havia decidido. Num ápice, Kennedy estava a par dessa tal decisão.
Seguiram-se as ordens expressas e reiteradas de Kennedy a John Gallbright, que era o embaixador dos Estados Unidos em Nova Deli, para que tal ato de agressão não tivesse lugar. Mas se de Kennedy foi esta a reiterada ordem, o que John Gallbright fez junto de Nehru e de Menon foi exatamente o contrário, o que também permite perceber o completo desnorte, em termos de comando e controlo, por parte de Kennedy e do seu Governo.
Mostra este episódio o poder, fora de uma situação de guerra, que o Governo de Portugal possuía, fruto do seu patriotismo reconhecido, mas por igual da firmeza política e de valores dos políticos desses nossos dias. Albert acreditou piamente no que o matemático lhe contou, uma vez que de pronto reconheceu essa história como perfeitamente plausível ao nível de Salazar. Hoje, se uma historieta do tipo fosse exposta ao residente da CIA em Lisboa, o que suscitaria seria apenas um sorriso. No mínimo. Indo um pouquito mais longe, esse funcionário poderia mesmo dizer: vocês acordaram ao fim de quatro décadas?!
Claro está que Albert e Kennedy sabiam que Salazar fora Ministro dos Negócios Estrangeiros durante a guerra e que era um patriota que sabia o que queria e para onde ia. Era um político cuja ação se suportava em valores permanentes, que colocavam os interesses históricos de Portugal sempre em primeiro lugar. Um político que nunca responderia, de um modo displicente, como agora se ouviu a Rui Machete. A diferença entre um dia solarengo e uma noite de Lua Nova, no meio de um descampado do interior do País.
O que agora se pôde ver é que a posição política do Governo Português perante a recente – já com uns dois anos – decisão dos Estados Unidos foi o sorriso de Rui Machete, com um discurso absolutamente inútil e inacreditavelmente pretensioso. Um dia solarengo e uma noite de Lua Nova. O povo, porém, tem um importantíssimo instrumento: a democracia...
