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|Tânia Rei| |
Às vezes, essas borboletas estão destinadas a queimar as asas, a perecer. Outras ficam a uma distância segura, sem colocar em risco a integridade. Outras há ainda que conseguem ter a luz, orbitar em volta dela, com naturalidade – é a plenitude.
Pela quantidade de borboletas chamuscadas que por aí se encontram, deduzo que muitas sejam só Ícaros sem governo. Algumas perdem a coragem, e ficam longe. E quero acreditar que no terceiro grupo estão aquelas que, mesmo com pequenos estragos nas asas, continuam a tentar.
Em boa verdade, somos todos borboletas que procuram luz. Mais! Precisamos de luz. Na vida real não acontece como nos filmes, em que ver a luz é mau sinal. “Afasta-te da luz!”, ouvir-se-ia gritar. Mas porquê negar as evidências?
Esta procura não é em vão, não é insana. Havemos de chegar, a jornada haverá de terminar em bem. Não, não, que disparate! A jornada nunca vai terminar, e vamos continuar a procurar.
A procurar o quê? Não sei. A procura é uma característica humana – procuramos um lugar, uma casa, um abrigo, uma zona de conforto, uma posição. Buscamos amor em doses industriais, amizades eternas.
Enquanto borboletas, nem todas as luzes serão boas. Algumas irão ofuscar os nossos olhinhos pretos e atentos. E vamos resistir (ou queimar as asas). Umas estarão demasiado apagadas, a ponto de nem as distinguirmos, no meio das candeias semeadas por toda a parte. Haverá as simetrias perfeitas, que, afinal, terão falhas.
E seguiremos. Sempre. Somos seres que precisam de luz para ser completos. Uma luz que nos atraia numa órbita viciada. Quando não quiserem alterar a órbita, quando mais nenhuma luz pulsante estiver no raio da visão periférica, atingiu-se a plenitude.
Na realidade, no meio de tantos clarões, que acendem e apagam a velocidade frenética, será possível?