Carradas de razão

|Hélio Bernardo Lopes|
Nestes dias recentes não faltam exemplos de situações ainda há pouco absolutamente impensáveis. Em muitos casos, bastante corretas. Foi, pelo que pude ler, o que se passou com as palavras de María Dolores de Cospedal, ao salientar que está na moda dizer que os políticos são escória humana.

Numa entrevista que concedeu a certa revista espanhola, María Dolores salientou que a mesma corrupção que pode haver num partido político também há na sociedade, e que o fenómeno não é património de ninguém, mas de todos. Um conjunto de evidentíssimas realidades, mas que não retiram o caráter de escória humana aos políticos, apenas o estendendo à generalidade da sociedade.

Simplesmente, há uma grande diferença entre quem dispõe de poder político e quem é governado: os primeiros é que fazem as leis e organizam a sociedade. Se o que se passa é consequência de dados muito geralmente presentes na comunidade humana nacional espanhola – o caso é geral –, a verdade é que a minimização de tal realidade pressupõe uma intervenção capaz para tal conseguir. Como se sabe, embora com cambiantes, a verdade é que tal atitude da classe política prima pela ausência.

Mas Cospedal volta a ter razão, quando refere que a ação das polícias mostra que funciona o Estado de Direito e que Espanha não é o país mais corrupto do mundo. De facto, custa acreditar que a realidade espanhola no domínio do combate à corrupção possa algum dia atingir um nível similar em Portugal. Basta olhar o que já está a dar-se entre nós nesta última semana, e logo se percebe que de Espanha nada aqui chegará que venha a saldar-se em êxito.

Mas a prova de que María Dolores de Cospedal tem a mais cabal razão vem dos Estados Unidos. Uma sondagem recente acaba de mostrar que apenas vinte e nove por cento dos norte-americanos não apoia a prática da tortura, desde que (supostamente) se dirija a estancar o terrorismo!! Isto, caro leitor, numa sociedade onde os seus cidadãos se vão matando uns aos outros a um ritmo praticamente diário.

No fundo, Bush e Cheney mais não são que duas excelentes estimativas da estrutura mental dos norte-americanos. Uma sociedade que nasceu na violência, se desenvolveu na violência e na agressão, e se propõe continuar e aperfeiçoar um tal paradigma. A senhora Cospedal, como se vê, tem a mais cabalíssima razão.

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