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|Tânia Rei| |
E, já agora? Que raio de tempo é este, logo a abrir o fim-de-semana? E a nova taxa do turismo? Então e agora os saldos vão passar a ser quando os comerciantes bem entenderem? Não há carteira feminina que resista a essa tentação! E o jogo de ontem? Aquilo era para termos ganho por mais, pá! Reclamar está no sangue. É um gene manhoso, que se encoscora na nossa cadeia de ADN, e ali fica, sempre a espetar agulhas.
Só nos falta agora é começar a reclamar no momento certo. Ponham-nos um livro de reclamações à frente, e todas as palavras se nos varrerão, qual rajada de vento em fúria.
Reclamamos como as crianças – nas costas, a fazer queixinhas e a apontar o dedo pela calada, na esperança que alguém tome a dianteira por nós nessa cruzada, e nos defenda do mundo. Não sou eu quem o diz, são as estatísticas da DECO.
Ainda assim, reclamar, seja onde e como for, é bom. Ter a capacidade de perceber que algo não está no patamar certo, que falta ali um quê de qualquer coisa, para temperar. A tal cereja encarnada (e não-cristalizada, porque eu não gosto) no topo de um bolo com, no mínimo, três andares. Enquanto somos inconformados, queremos mais. Enquanto o que temos não nos chega, buscamos novos sonhos.
Gosto de pensar que tenho espírito de inconformada. Por acaso, e não é para me gabar, mas costumam dizer-me que sou refilona. Já deve contar para alguma coisa, penso eu.
Sugiro, até, uma terapia simples, logo de manhã ao levantar da cama. A primeira coisa que devíamos fazer, até antes mesmo de nos espreguiçarmos, é (abram-se bocas) reclamar.
Reclamem com tudo, logo ao abrir os olhos. Uma espécie de Síndrome de Tourette, no fundo. Se resulta, não sei, mas parece-me uma boa forma de iniciar os dias.
Queixar-se, exigir-se, gritar-se, espernear-se – nem sempre é sinónimo de mau feitio. Às vezes só quer dizer que ainda não chegamos “lá”.