![]() |
| |Hélio Bernardo Lopes| |
Na noite do 11 de Setembro um dos nossos canais televisivos transmitiu um debate com Mário Soares, João Salgueiro, Alvarenga Sousa Santos e Diogo Freitas do Amaral. Este, que não se encontrava no estúdio, a dado passo referiu, e muito bem, que se impunha evitar um dos objetivos dos atacantes: suspender fortemente o sistema democrático, assente nas liberdades fundamentais, existente na generalidade dos países ocidentais.
Ora, a notícia recente que motivou este meu texto refere que o extremismo islâmico é uma ameaça real nos países ocidentais, apontando mesmo o papel das redes sociais na propagação geográfica do fundamentalismo e do ódio religiosos.
Num ápice, surgiu uma outra notícia, a cuja luz as autoridades de serviços secretos pretendem ter acesso, precisamente, às conversas que têm lugar através das redes sociais. A ser assim, passar-se-á a ter nas nossas sociedades um autêntico sistema de censura em tempo real. Passará a conhecer-se o que se transmite em matéria religiosa, mas por igual tudo o resto.
Achei graça a este desejo, tão rapidamente formulado, ao mesmo tempo que acompanho o cabal silêncio desses serviços secretos, e das autoridades judiciárias em geral, ao redor dos mil e um fantásticos crimes cometidos pela banca e através dos paraísos fiscais, sediados um pouco por todo o lado, incluindo o Ocidente. Uma situação que me trouxe ao pensamento as palavras de ontem do académico Luís Gonçalves da Silva, a cuja luz a (nossa) justiça atua preferencialmente após denúncias.
Simplesmente, aquela notícia sobre a presença do extremismo islâmico no Ocidente destes dias ficou a dever-se a um estudo operado pela Fundação Ajuda a Igreja que Sofre, que é uma estrutura da Igreja Católica. O referido estudo terá sido apresentado na Assembleia da República num destes dias pelo patriarca sírio, Gregorios III Laham.
Ora, basta pensar um pouco, e logo se percebe que, a prazo curto, a ideia que virá a surgir é que a defesa dos valores religiosos ocidentais – em essência, os católicos – terá de passar pela obrigatoriedade da presença dos mesmos desde a escola às comunidades locais e nacionais, mas por igual ao nível das estruturas públicas. Será, pois, o regresso do Estado Confessional, suportado na necessidade de conferir às pessoas um amparo religioso contra as novidades oriundas do Islão. As pessoas estariam desprotegidas...
Sem um infinitésimo de espanto, o patriarca não se referiu ao imperativo, desde há décadas, de dar corpo ao Estado da Palestina, fazendo parar o genocídio do povo palestiniano pelos militares de Israel. Se fosse o Islão a fazer o que fez Israel em Gaza, cá teríamos de novo o patriarca sírio a pedir a nossa atenção, mas sendo palestinianos os mortos, o senhor esqueceu-se de tratar o tema. E, com a notável exceção da Suécia, todos se têm vindo a esquecer do tema, já saldado em centenas de milhares de mortos desde a fundação do Estado de Israel. Como são perigosos o Putin e a Rússia...
