O amor é para ser vivido a três

|Tânia Rei|
Por mais filmes piegas que veja, livros emaranhados em mel que esfolhe ou músicas capazes de fazer chorar o Evereste que o meu ouvido capte, encontro sempre um factor comum, e até incomodativo.

O amor, que, dizem, ser o mais belo e sublime sentimento, não é tratado a dois. Pensem lá em quantos filmes, livros ou músicas em que, em presença de um par romântico, que vive uma paixão tórrida, não há um badameco qualquer, que, em determinada altura, transforma aquilo num triângulo? Mesmo quando o terceiro elemento é um mauzão, determinado a apenas chatear os pombinhos, ele existe. Ele/a, clarifique-se.

Isto pode ser só estranho, ou um hino à degradação amorosa. Não entendo por que é que a provação suprema de um casal tem que ser uma terceira pessoa. Haverá até quem se identifique com a existência casual de uma terceira pessoa, mas sobre isso não me vou alongar.

Ora, o amor, ou a vida, ou em algo que seja real e não fantasiado, não pode ser perfeita nem bonita. Porque está, de facto, a acontecer numa vida qualquer perto de si. E no mundo real não há Cinderela que resista.

Ainda assim, acho de extremo mau gosto sugerir que nenhum amor se constrói a dois. Haverá sempre alguém. Um ser que transvia a malta do caminho certo.

Alguns dirão que são as chamadas “provas”. Isso resulta – basta perguntarem à Eva como é que ela se saiu na missão.

Não quero acreditar que o amor – o que é a sério – necessite de testes. Nem quero acreditar no amor a três.

Saiam essas ideias da minha cabeça, saiam! Então já não há amores como o do Romeu e Julieta? Homessa! Esse afinal também não serve… Enquanto escrevia, lembrei-me de um amor sem uma terceira parcela. E é ele o filme que data de 1980, “A Lagoa Azul”. Lembrem-se, só estavam eles na ilha.

Daqui tiramos uma ilação simples: quem quer amar desmesuradamente, faça as malas, e viaje para uma ilha longínqua. Onde ninguém os veja, ninguém os ouça e, acima de tudo, ninguém os chateie.

Para já, não quero tomar posições extremistas, e vou manter a ilusão de que só há triângulos na matemática. E, como nunca fui muito boa a contas, pode ser que me safe.

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