Eles condenam

|Hélio Bernardo Lopes|
A classe política da União Europeia, e a da generalidade dos seus Estados membros, continua a manter uma prática política assente, essencialmente, no uso da palavra, em geral de um modo errado e sempre muito cobarde. Se prestarmos um mínimo de atenção e conhecermos um pouco da História do século passado europeu, facilmente nos damos conta de que o atual modo de intervenção política dos Estados europeus é o de sempre.

Há bem pouco tempo, foi-nos dado acompanhar o modo interessado e cobarde como a França de Sarkozy se determinou a ajudar a derrubar o Governo de Kadafi, de molde a que este pudesse ser fisicamente eliminado, assim se pondo um fim no que poderia vir a expor ao mundo sobre o financiamento líbio às campanhas de Sarkozy. O resto da Europa limitou-se a protestar, tal como os Estados Unidos de Obama, mas ninguém se opôs ao homicídio do antigo líder líbio nem se determinou a procurar os responsáveis da barbaridade que todos pudemos ver. É a Europa no seu pior.

Mais recentemente, surgiu-nos a fantástica farsa dos aviões e dos barcos russos, embora ainda não tenham os nossos submarinos conseguido detetar nenhum dos seus congéneres russos. Nem mesmo evitar que satélites da Rússia fotografem o território português. Estamos, pois, muito atrasados e carentes de investimento em estruturas militares de defesa. É do que os portugueses hoje mais necessitam. E será que as nossas secretas já terão detetado alguma quinta coluna russa a atuar no território de Portugal?

Em contrapartida, o silêncio das autoridades portuguesas e europeias é total ao redor da recente acusação da Amnistia Internacional, sobre que o exército de Israel demonstrou um desprezo chocante pelas vidas civis na Faixa de Gaza durante os 50 dias de guerra no território palestiniano, em julho e agosto último. Dos Estados europeus e da União Europeia, bom, o silêncio, com a notável exceção da Suécia, que se determinou já a reconhecer o Estado da Palestina. Protestos dos restantes europeus...

Como teria de dar-se – dá-se há muitas décadas –, Israel rejeitou estas acusações, salientando que não era apresentada nenhuma prova, ao mesmo tempo que se ignoravam os crimes de guerra perpetrados pelo Hamas! Simplesmente ridículo e revelador da mais cabal falta de vergonha e de moral!!

Os ataques do Hamas saldaram-se na morte de seis civis, um deles uma criança, ao invés dos milhares de velhos e velhas, médios e médias, rapazitos e meninas mortos, sem contemplação, pelos militares israelitas. Contam-nos alguns destes que nem sabiam ao que iam e que o que lhes era dito bem podia não ser a verdade.

Estranhamente, ninguém na União Europeia resolveu colocar os políticos e os militares de Israel perante o Tribunal Penal Internacional. Nem esta instituição se determinou a acusar quem quer que fosse pelos graves crimes de guerra praticados pelos militares israelitas sob orientação do Governo de Israel. E o que nos dizem os políticos da famigerada União Europeia? Bom, condenam novas construções israelitas em Jerusalém Oriental! E porquê? Bom, porque tal põe em risco os esforços para a retoma de um processo de paz com a Palestina!!

Por fim, aí temos mais um sumptuário e inútil gasto de dinheiro dos contribuintes europeus com a vigem inútil da Alta Representante para a Política Externa da União Europeia – haverá quem lhe ligue? – a Israel e aos territórios palestinianos, incluindo Gaza. É minha convicção que esta viagem, que culmina a completa inoperância da União Europeia neste domínio – os Estados Unidos apoiam Israel sem condições –, é uma das melhores imagens da falta de importância da União Europeia na vida da Comunidade Internacional. É difícil, neste domínio, fazer pior figura.

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