Falar do tempo

|Tânia Rei|
Hoje dei por mim com o chamado “síndroma da folha em branco”. O que é isto? É quando temos que colocar algo no papel (ainda que seja digital) e… não sai nada.

Por isso, resolvi usar um cliché. Se resulta sempre, não haverá de resultar agora?

Então… e este tempo? Pois, uma maçada. Nem uma pessoa pode sair de casa. É o vento, é a chuva… Pois é. E isto ainda não é nada! Esperem até vir o gelo. Ainda no outro Inverno, verdade verdadinha, vi eu a estrada nacional toda cheia de geada. Tão branquinha, que ia jurar que ia haver ali uma competição olímpica de patinagem.

Outra coisa que me irrita, não no gelo, mas nos dias de chuva, são os carros que nos molham na rua. Falta de civismo, é o que é. Por isso que o país vai como vai. Quase todos já vimos um tsunami a aproximar-se por uma das laterais. Já me aconteceu, pois claro, e parece-me até que nessa ocasião vislumbrei a arca, na dobra de uma onda.

Ainda na chuva, há o drama dos inevitáveis guarda-chuvas. Se está vento, passaremos o dia a contar os que encontramos partidos, abandonados por falta de serventia. Se está a chover, só nos lembraremos que o deixamos no baldinho à entrada da farmácia quando chover outra vez, e dermos por nós ensopados.

Depois, vem a Primavera, e havemos de nos queixar do pólen e por não sabermos o que havemos de vestir, porque, e passo a citar, “de manhã ainda está frio, mas à tarde vem este sol”, o que nos deixa à beira de descompensar por não saber o que puxar do armário. No Verão, é, claro, o calor. Ou a falta dele, que também tem sido muito frequente.

Todos os dias ouvimos falar do tempo. Mesmo que não se veja o canal da meteorologia (há algum?). Se não tem por hábito consultar o site do IPMA, ou perdeu a informação no final do noticiário das oito (ahhh, já passou? Nem vi que tempo dão para amanhã!), não se preocupe. Há sempre alguém na rua, na padaria, no café, no banco ou no trabalho que sabe, com exactidão, o tempo previsto para toda a semana.

Falar do tempo ajuda, pois, a conversar. Isso todos sabemos. Falar do tempo é inato. Todos percebemos quando uma conversa caminha para o final, e aí entra a deixa “E este tempo?”. Já nas relações amorosos, falar do tempo, a não ser que se namore com um meteorologista, é mau sinal. Todos falamos do tempo, todos pensamos no tempo, todos queremos, em boa verdade, saber do tempo.

A meteorologia, é, então, um saber elementar a qualquer ser que caminhe na face na terra. Até para quem está no espaço, não vá o diabo tecê-las, e cair uma chuvada de meteoritos. Por isso é que é uma ciência, e não uma arte abstracta. Muitas insinuações se levantam agora, porque tumultuosas reclamações se levantam quando os senhores do tempo dão a previsão errada. No entanto, permanecemos fiéis, para saber do tempo. É como na bola. Quantos treinadores já erraram nas previsões? E mudamos de clube? Não, claro que não.

O tempo poderia, até, ser uma religião – a juntar aos argumentos anteriores, todos adoramos o tempo, todos ouvimos com atenção quando se fala do tempo, todos seguimos o tempo com fervor.

Pelo tempo, mudamos a nossa forma de vestir, de falar (quando ficamos doentes), não saímos de casa ou adiamos o inadiável.

Porque o tempo é soberano, o tempo interessa e nunca sai de moda. O tempo é um little back dress, um old but gold, um clássico.

Pois…Então… E este tempo, ãh?

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