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| |Hélio Bernardo Lopes| |
Esses leitores talvez recordem que Júdice se comprometeu a não fazer mais análise política se o que ia prevendo, semana após semana, não viesse a ter lugar. Bom, a verdade é que tudo o que havia previsto, quase como se fosse um silogismo, onde até eram quantificadas as posições dos grandes atores sociais, saiu completamente errado.
Em boa medida, Júdice nunca mais voltou a fazer análise política, até porque os leitores mais atentos facilmente terão percebido que José Miguel Júdice não conseguia separar o desejo da realidade.
Simplesmente, desde há perto de um ano, José Miguel Júdice, com periodicidade aleatória, tem vindo a surgir na grande comunicação social, opinando sobre os grandes desígnios do País. E, naturalmente, sobre a situação dos portugueses e das suas famílias. Dentro da tragédia que está em jogo, o caso do casal português no Dubai, com o seu bebé hospitalizado e sem meios capazes para pagar a medicina só para quem tem dinheiro, constitui até um caso interessante, porque mostra que a destruição do Estado Social nada tem que ver com a situação portuguesa, antes é uma postura ideológica.
Ora, nesta sua entrevista mais recente a um diário nacional, Júdice apoia tudo e o seu contrário. Apoia a política de Pedro Passos Coelho, que teve a coragem de apresentar um Orçamento do Estado para 2015 realista e com propostas que não são eleitoralistas. Mas também apoia António Costa – diz o contrário da política de Pedro Passos Coelho –, que entende ser o homem certo para liderar o País. Mas coloca Nuno Crato como o melhor Ministro da Educação da III República, sendo que todos dizem o contrário, logo a começar por António Costa.
Em complemento – e aqui é simplesmente fantástico –, Júdice acusa os portugueses de serem os culpados dos políticos serem mentirosos, uma vez que todos nós preferimos ouvir coisas boas do que sermos confrontados com a realidade. Diz até que a democracia em Portugal não serve para nada, porque nunca votaremos em alguém que nos diga a verdade, mas sempre em quem nos minta. Um verdadeiro analista, psicólogo da portugalidade e analista político-social em movimento. E é por tudo isto – diz Júdice –, que a democracia está a ser corrompida por políticos mentirosos.
Ou seja, os portugueses não querem enfrentar a realidade trágica que estamos a viver. Uma realidade que, não se suportando em algo trágico, está igualmente presente no milionário Dubai. Deve, pois, ter sido o tal casal que, mesmo lá longe, ainda não percebeu a realidade da organização das comunidades humanas. É caso, pois, para que exclamemos: que poder de análise política!...
