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|Hélio Bernardo Lopes| |
A este propósito, conto aqui um caso passado com as nossas antigas autoridades policiais, ao tempo de II República, que se encarregavam da defesa da segurança do Estado. Em certo momento, foi detido um concidadão nosso que pertencia a certa estrutura clandestina ao tempo. A referida polícia, em vez de o manter sob detenção durante um bom tempo, de molde a mostrar que nada havia sido confessado, colocando-o depois em liberdade mas sob vigilância, a fim de evitar contactos com o resto da estrutura, num ápice – creio que um dia será muito –, procedeu à detenção dos restantes colegas do grupo, o que mostrou a todos os interessados que o primeiro detido havia colaborado e dado todos os colegas à morte, como usava dizer-se. Até na própria polícia, depois de se ter tomado conhecimento deste acontecimento, o mesmo foi censurado.
Pois, o que agora se passou com o Ministro dos Estrangeiros, Rui Machete, tem o se quê de muito parecido. E por diversas razões. Em primeiro lugar, porque nunca se tecem comentários públicos sobre posições dissidentes em tempo de guerra. Para mais envolvendo nacionais ou seus descendentes. São temas só para serem conhecidos, nunca publicamente divulgados sobre a hora. É algo que ou se percebe, ou não percebe. Como usa dizer-se, vem nos livros da pior literatura de espionagem ou guerra.
Em segundo lugar, se estas afirmações de Rui Machete correspondem à verdade, elas serão já, neste momento, do conhecimento da liderança do Estado Islâmico, o que coloca esta dúvida: e se as jovens vierem a ser julgadas por via destas declarações e condenadas à morte?
E, em terceiro lugar, tudo será pior se nada do que foi dito for verdade, porque se trataria, então, de utilizar duas jovens como escudos à luz de uma estratégia divisionista. É pouco provável. Em resumo: estas palavras recentes de Rui Machete, suportadas no conhecimento que poderá ter tido por terceiros, são, quase com toda a certeza, as mais graves que até hoje produziu no âmbito das suas atuais funções. Indubitavelmente, elas poderão vir a custar vidas. Esperemos que não, porque já nos é lícito esperar do Primeiro-Ministro um apoio público claro a Rui Machete. Já temos o exemplo passado com Nuno Crato...