O portugal que temos

Hélio Bernardo Lopes
Num destes dias, tive a oportunidade de ler o texto, NA MORTE DE ALPOIM CALVÃO, do nosso concidadão Alfredo Faustino, e publicado no Diário de Notícias. É um texto curto mas repleto de significado e, acima de tudo, muito assertivo.

Alfredo Faustino esteve nos Jerónimos durante a cerimónia fúnebre de Alpoim Calvão, que há dias deixou a nossa companhia. Refere o nosso concidadão, com a mais que expectável razão, que ali estavam centenas de pessoas, na sua maior parte militares e antigos militares. É naturalíssimo que tal viesse a ter lugar, dado que Alpoim Calvão foi um militar extremamente exemplar, que entregou à sua carreira a defesa do interesse do País e nas mais diversas e perigosas circunstâncias. Em boa verdade, sempre que necessário.

Escreve Alfredo Faustino não ter ali visto os mais representativos membros da Nação, designadamente o Primeiro-Ministro, o Vice-Primeiro-Ministro ou o Ministro da Defesa Nacional, sendo que o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, se fez representar pelo seu chefe da Casa Militar, o Tenente-General Carlos Alberto de Carvalho dos Reis. E, como português que é, Alfredo Faustino lamenta tal realidade.

Pois, eu também lamento. Tal como me pareceu estranha – até revoltante – a quase cabal ausência noticiosa nos nossos canais televisivos. E a grande diferença entre os que sempre o denegriram e os que agora, já no poder, tudo fizeram por passar ao lado, está só nisto: os primeiros eram adversários da política que Alpoim Calvão sempre defendeu, mas os segundos só têm de patriotas o que as suas palavras apregoam. De facto, procuram viver à tona do oceano político, qualquer que seja o seu grau na Escala Beaufort e sopre o vento para onde soprar. Os primeiros tinham um credo, os segundos têm diversos. O valor pátrio que Guilherme Alpoim Calvão sempre defendeu já só existe hoje numa minoria que decresce e está prestes a desaparecer.

E se é indiscutível que nas últimas décadas, talvez mesmo desde a instauração da República, poucos terão sido os portugueses que atingiram a grandeza cívica de Alpoim Calvão, e que por isso Portugal perdeu uma referência de raro patriotismo, a verdade é que sempre tem aqui que atribuir-se ao Presidente Cavaco Silva a força de caráter e a coragem para não virar a cara à nossa História. Enfim, é o Portugal que temos.

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