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Hélio Bernardo Lopes |
O texto, contendo embora alguns sinais sobre que escrevi ontem mesmo, não tem um ínfimo interesse, mas contém algumas afirmações que merecem uma reflexão. E a primeira dessas afirmações é a lamentação de Soares sobre o desgraçado país [que é] o nosso, tudo vai mal, pior do que nunca. É claro que tem toda a razão, mas que é uma razão muito tardia e inútil, porque só foi possível chegar ao atual estado de coisas com o apoio de Mário Soares, que tanto apontou aos portugueses que Pedro Passos Coelho era uma pessoa simpática e com quem se podia dialogar. Em todo o caso, muitos outros podem bem queixar-se muito mais, porque o atual Governo só muito ligeiramente tocou nas fundações.
Estas considerações sobre Pedro Passos Coelho foram repetidas à saciedade, para mais num tempo em que se sabia já ao que vinha o líder do PSD, que tanto havia atacado e posto em causa o PS, Sócrates e o seu Governo. Qualquer pessoa com um ínfimo de conhecimento da História de Portugal da III República sabia que a direita parlamentar nunca aceitou o Estado Social e que, por isso mesmo, agora com um suporte presidencial único, ele iria ter o seu fim.
Diz ainda Mário Soares que nestes três anos Portugal foi destruído, com o Estado Social a desaparecer, com o Sistema de Justiça extremamente paralisado, com as universidades e os politécnicos sem dinheiro, etc.. Tudo isto é verdade, como o é, por igual, que a pobreza é cada vez maior e que os portugueses têm continuado a emigrar, já com a classe média praticamente desaparecida. É tudo uma realidade vivida e bem percebida – dolorosamente percebida –, mas a verdade é que o PS, até a UGT, se fartaram de contemporizar com tal destruição.
Voltou Mário Soares a ter razão quando escreveu que o Presidente da República não fala e nunca se lhe ouviu uma palavra sobre o caso do BES. Percebendo-se o sentido da frase, a verdade é que neste último tema o que se passou não foi bem assim, antes como já todos sabem e dominam. E também não me surpreendi com a resposta do Primeiro-Ministro às considerações presidenciais, porque a mesma é o natural resultado de se ter escolhido para o alto cargo de Presidente da República um concidadão que mostrou ser, no plano político – seria difícil perceber que iria ser assim? –, o pior Presidente da III República. A verdade é que os portugueses erraram à primeira e voltaram a errar à segunda...
Por fim, uma ligeira nota: nunca duvidei de que, com uma Maioria-Governo-Presidente de direita, as coisas iriam dar no que se vai vendo. E Mário Soares? Simplesmente, o que os portugueses agora desejam é que o PS, depois das próximas eleições, reponha o Estado Social, porque se o não fizer, bom, escusa de andar por aí a concorrer ao exercício do poder. Chega de desculpas esfarrapadas, que só serviriam para mostrar que o PS teve na sua anterior derrota o melhor presente que poderia esperar, deixando à direita o encargo de destruir o Estado Social, para depois nos vir cantar a lengalenga de que voltar atrás é muito difícil. Os portugueses já não são assim tão parvos...