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| Carlos Fiolhais |
Vistas bem as coisas, os resultados eram maus porque o método de “avaliação” era mau. Descobriu-se que havia uma quota escondida no contrato entre a FCT e a European Science Foundation (ESF), a quem tinha sido encomendada a “avaliação”: 50 por cento dos centros eram, à partida, para serem extintos na prática, de acordo com a teoria de um investigador, António Coutinho, que falou da necessidade de uma “poda”, pretendendo dizer que o sistema científico português tinha crescido demais, sendo preciso cortar muitos ramos. Estava equivocado, pois ainda estávamos aquém da média europeia apesar de um grande crescimento recente que bem nos pode orgulhar. Mas a sua teoria resultou num erro enorme.
A “poda” realizada pela FCT/ESF não foi, de facto, uma “poda”, pois, aceitando a comparação dos centros de pesquisa com árvores, limita-se a abater à machadada, cortando o tronco, e um pouco ao acaso, metade das árvores do pomar, mesmo algumas que estavam a dar muito bons frutos. Apurou-se ainda, uma vez conhecidos os “avaliadores” da ESF e as classificações por eles atribuídas, que as regras do processo tinham sido modificadas a meio do percurso, diminuindo o número de avaliadores. Em resultado, em muitos casos as notas foram efectivamente dadas por um grupo muito restrito de não especialistas, que emitiam meros palpites.
Chamada a atenção da FCT e do ministro da Ciência e Tecnologia Nuno Crato – e todos chamaram a atenção, investigadores, sociedades científicas, grandes laboratórios e instituições, reitores de Universidades, directores de Politécnicos, dirigentes de associações que reúnem os investigadores – a resposta foi praticamente nenhuma.
Mas os milhares de investigadores espalhados pelo país e os milhões de cidadãos que pagam a ciência com os seus impostos, esperando vir a viver melhor, não pensam o mesmo. Para o governo tudo pode estar bem, mas para o país e para nós, infelizmente, tudo está pior.
Carlos Fiolhais Professor universitário (tcarlos@uc.pt)
Conteúdo fornecido por: Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva
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