![]() |
Hélio Bernardo Lopes |
De toda esta entrevista, retirei uma sua afirmação, ao redor das intenções da atual Maioria-Governo-Presidente: querem acabar com o Estado Social, sob o argumento de que não há dinheiro. Bom, é a realidade, embora o valor de verdade da explicação não seja aceitável. Simplesmente, Adriano Moreira questiona, num sentido que é muito o seu: e princípios?
Este tema por si abordado, e que de há muito se repete, assenta, em minha opinião, num erro: Adriano Moreira, a uma primeira vista, acreditará na superioridade dos princípios sobre os interesses materiais mesquinhos. E isto apesar de ter respondido a uma pergunta da revista STELLA sobre o Banco do Vaticano de um modo corretíssimo: a Igreja Católica não deve ter um banco, porque Cristo expulsou os vendilhões do Templo, não os quis lá. A verdade, é que o Papa Francisco, afinal, manteve o Instituto de Obras Religiosas – o dito Banco do Vaticano. É verdade que criou uma comissão para o supervisionar, mas nós já todos percebemos que a supervisão bancária é uma completa inutilidade. Uma simples expressão sem conteúdo de eficácia.
Interessante é constatar que o que fica desta entrevista é que querem acabar com o Estado Social porque não há dinheiro. Depois, surge com a questão da tal sua principiologia – é um termo seu –, embora ninguém sobreviva comendo princípios. Já tenho pedido, aqui em casa, empadão de princípios, ou de democracia, mas a minha mulher nunca conseguiu realizá-los.
Tal como muito bem diz o nosso histórico académico, quem hoje toma decisão são pessoas cuja grande parte só pôde adquirir a sua formação académica porque tínhamos Estado Social, que era alimentado pelos pagamentos dos que hoje são velhos. É a pura das verdades, tal como o é que há um discurso constante a atacar ou contrariar o convívio entre velhos e novos, empregados públicos e empregados privados, como se o pluralismo, que Portugal também tem, não tivesse um cimento que é a comunidade de afetos. Simplesmente, Adriano Moreira deverá ter já percebido que estas suas palavras e a correspondente razão que encerram caem sempre em saco roto.
Estranhamente, Adriano Moreira interrogou-se sobre o porquê de a sociedade portuguesa, em particular, e o Mundo, em geral, se terem tornado tão dualistas, pondo sempre em oposição duas realidades contrastantes, perspetivando uma comunidade onde de forma crescente o credo de mercado tem vindo a substituir o credo de valores. Mas não foi essa a estratégia posta em andamento por quem manda no Mundo? E vê Adriano Moreira os nossos bispos bater-se contra tal realidade, mas de um modo persistente, frequente e bem audível? Porque eu não vejo nem oiço. Vejo e oiço o Papa Francisco, mas, como pude já explicar, o que ele diz tem uma repercussão ínfima na organização política das comunidades nacionais e na ordem política internacional.
Também Pois claro que não! Há quem a decida para valer em todo o lado, sendo que em cada lado há quem, por via da metodologia democrática, ascenda ao poder para pôr em prática os objetivos determinados por quem manda. Sem um infinitésimo de caráter ofensivo, seria bom que relesse o discurso de Salazar no Porto, em janeiro de 1957, mormente na parte, O Regime e os Partidos, mas também as obras, DE TRUMAN A REAGAN, de N. N. Iakovlev, e IRMÃOS, de David Talbot, porque por ali verá o que, afinal, está por detrás do estado de destruição da dignidade humana que hoje varre o Mundo.
Claro está que mantendo-se o rumo político, a Europa no seu conjunto poderá vir a sofrer graves consequências, até porque a política de cortes é mais extensa do que pode parecer à primeira vista, já não chegando a opressão do corte de pensões, de salários, etc., sendo cada vez são mais severas as punições pecuniárias. E então? Para que serve, afinal, a democracia? Como podem os portugueses usá-la para mudar o rumo desta desgraça? Ou será que Adriano Moreira não se deu ainda conta de que a democracia é um instrumento essencial para o poder ser exercido à revelia da vontade das populações, mas de um modo consentido? E não é isso que disse Salazar naquela sua intervenção?
Ao estado de coisas a que se chegou – antes descrito e referido pelo académico na entrevista – chama Adriano Moreira neoliberalismo repressivo – democrático, claro está –, porque aquilo que não pode vir dos impostos, vem do aumento das multas, vem do aumento dos preços de consumo das coisas.
Simplesmente e ao contrário da conclusão de Adriano Moreira, não se está aqui perante um qualquer erro político, antes em face da materialização de uma estratégia pré-pensada e já hoje posta em prática por todo o lado. Reside aqui também a causa do conflito na Ucrânia. Será que Adriano Moreira não percebeu já que o derrube do avião malaio foi operado pelos atuais mandantes de Kiev, quase certamente apoiados nos falcões republicanos, porventura sem o conhecimento do próprio Obama?