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| Hélio Bernardo Lopes |
Desde que os partidos da direita política puderam exprimir-se, a sua posição foi sempre contrária à criação daquela essencialíssima estrutura, bem como à implementação e ao desenvolvimento da Escola Pública e da Segurança Social Pública. Tal como escrevi e tão facilmente se poderia perceber, a vitória presidencial de um político de direita levaria sempre ao fim do Estado Social. E, de facto, estando atentos ao discurso da primeira tomada de posse do Presidente Cavaco Silva, lá estava já o anúncio de que se não devia esperar tudo só do Estado e que deviam ser todos a enfrentar as dificuldades que surgissem. Como teria de dar-se, está-se já à beira do fim do Estado Social.
Eu até compreendo esta posição política ao nível da área da direita, mas tenho de exigir que a esquerda que possa aceder ao poder faça o que sempre disse ser o seu ideal humanista, devolvendo aos portugueses o Estado Social, que tão essencial é a uma vida digna. Simplesmente, nós vimos como Mário Soares se deitou a apoiar um neoliberal como Pedro Passos Coelho, que diariamente punha em causa o próprio PS e respetivos dirigentes.
Sem espanto, eis que agora nos surgiram os resultados de um (dito) estudo sobre o Serviço Nacional de Saúde, encomendado pela Fundação Calouste Gulbenkian. Muito em resumo, o que nos diz este estudo? Bom, que a sobrevivência daquela estrutura passa por cada um de nós, evitando os hospitais e recorrendo mais a uma medicina de proximidade e preventiva. A uma primeira vista, tudo até parece excelente, mas o problema é que existem as vistas seguintes.
Acontece que o nosso problema não é apenas o Serviço Nacional de Saúde, hoje um verdadeiro escombro em face do que já foi. Para podermos pensar sobre este tema, temos já diversos casos muito exemplificativos: o da Justiça, o da Educação, o dos CTT, o dos lixos, a TAP, o que se vem passando, sem parança, na banca portuguesa – e isto com as ajudas do BCE...–, etc.. Por via deste vetor exemplificativo, nós podemos agora estimar facilmente o que irá dar-se com o futuro do acesso aos cuidados de saúde. De resto, nós até tivemos há dias o referendo escocês, por ele podendo perceber a superioridade do seu sistema de saúde em face do escombro criado pelos políticos britânicos em Inglaterra, desde que Thatcher chegou ao poder.
O que este (dito) estudo acaba por insinuar é que os hospitais podem, numa enorme medida, ser dispensados, porque cada um de nós, e por todo o Portugal, pode adiar o surgimento das suas maleitas. O estudo diz mesmo que esse adiamento pode ser da ordem de quinze anos. Mas, claro que os autores do estudo desconhecem cabalmente a realidade portuguesa, porque se assim não fosse, estas recomendações seriam um produto do mal.
Lamento que a Fundação Calouste Gulbenkian não tenha dado aos autores do estudo a possibilidade de passearem por Portugal, por exemplo, durante um ou dois meses, de molde a poderem conhecer a realidade da vida social dos portugueses e perceber as terríveis limitações destes em face do acesso a serviços essenciais, como saúde, escola, tribunais, reformas, cultura, etc..
Por fim, o tal pacto a vinte e cinco anos, que se diz ser essencial. Bom, até ao final do Governo de Sócrates nós sempre ouvimos o PS e os seus dirigentes defenderem o Estado Social, com especial ênfase para o Serviço Nacional de Saúde universal e agora tendencialmente gratuito (mas a pagar). Portanto, o que vai o PS fazer se vier a governar? Prosseguir com as reformas modelo-Correia de Campos, cujos fracassos são noticiados ao dia-a-dia? Porque se o caminho for esse, bom, o melhor é continuarem os que já nos desgraçaram.
