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| Hélio Bernardo Lopes Escreve diariamente |
Era muito frequente que no tempo da II República se chegasse a membro do Governo depois de se ter percorrido uma prolongada carreira de serviço público. Terminado o curso superior, ingressava-se na vida da advocacia, ou numa estrutura do Estado, onde se permanecia um bom tempo. Por via das qualidades reconhecidas e com a natural sorte que é sempre essencial, seguia-se o lugar de secretário de certo gabinete governamental, ascendendo depois a chefe de gabinete, a seguir a subsecretário ou secretário de estado e, bem mais tarde, a ministro, se tal situação chegasse.
Imagine agora o leitor um jovem que calhe a ingressar na Academia Militar após completar o 12º Ano e por concurso. Quatro anos mais tarde, esse jovem chega ao primeiro posto de oficial. Admita-se que é colocado numa função desempenhada no Ministério da Defesa Nacional – nunca acontece –, aí permanecendo quatro anos. Pois, o que se passou com Carlos Moedas, neste caso do jovem militar, corresponderia a ser chamado a desempenhar o cargo de Secretário de Estado da Defesa Nacional, ascendendo três anos depois a ministro da pasta e, mais tarde, indo parar a assessor do Secretário-Geral da OTAN, não voltando mais à vida militar em Portugal..
Se assim fosse, este nosso jovem que havia seguido a carreira militar no Exército, aos vinte e nove anos teria já atingido um nível só conseguido por cerca de um por dez mil em Portugal e na generalidade dos países desenvolvidos do Mundo..
Como é evidente, Governo algum operaria tais iniciativas com um cadete oriundo da Academia Militar, mas o mesmo já não aconteceu com Carlos Moedas. E quem diz este, diz muitos outros casos que por aí têm tido lugar na vida política. Comparar Carlos Moedas com Maria João Rodrigues – há muitos outros casos –, é comparar um tenente com um major-general. No ambiente militar do espaço civilizado e desenvolvido, uma tal escolha nunca teria tido o desfecho que se viu neste caso..
Isto mesmo se pode referir sobre as carreiras policial, da magistratura judicial ou académica. Em todas elas existem regras, em geral exigentes e razoavelmente universais, que, invariavelmente, são seguidas pelos que vivem e trabalham no seu seio. Custa-me acreditar que, nesses países mais desenvolvidos, um caso destes possa ter lugar. Um lugar tão cimeiro, pela lógica das coisas da vida em sociedade, requer idade e a correspondente experiência e sensibilidade. Enfim, somos outra loiça...
