As voltas que a vida dá

Hélio Bernardo Lopes
Escreve diariamente
Se os nossos bispos tiverem tido a oportunidade de acompanhar o mais recente NEGÓCIOS DA SEMANA, terão percebido o que, com enorme facilidade, deveriam já saber pela cultura histórica sobre o modo de vida português.

Ao fim de uns cinquenta minutos, a conclusão predominante foi pessimista, dado que nenhum dos presentes acredita que o País e os portugueses vão mudar para os seus antípodas culturais. Com idades variadas, todos conhecem bem o ditado de que o hábito não faz o monge e que as coisas são como são.

Por via destas realidades, foi com estranheza que escutei as palavras do bispo António Francisco dos Santos, apelando aos governantes para que promovam uma economia social virada para as pessoas. Mas, então, não é verdade que a atual Maioria-Governo-Presidente sempre disse isso mesmo, ou seja, que estava a promover uma economia social virada para as pessoas?! Como qualquer um percebe facilmente, tudo isto não passa de palavras de circunstância, sejam do bispo ou daquele terno de soberania.

Os nossos bispos católicos tiveram as mais vastas oportunidades para criticar a desastrosa política social da atual Maioria-Governo-Presidente, mas a verdade é que nunca o fizeram. Sempre foi claro que o objetivo destes políticos era pôr um fim na Constituição de 1976, destruir o Estado Social e pôr em vigor um modelo político-social de tipo neoliberal, negociando tudo e com todos e a qualquer preço. Não faltam provas, que foram sempre surgindo à medida que o tempo foi decorrendo. Dos bispos portugueses, no entanto, o que sobreveio foi o silêncio.

Com alguma graça, um dos bispos referiu mesmo que os governantes devem lutar por um sistema financeiro assente na honestidade e na ética. Mas o sistema financeiro, seja onde for, é pautado por tais valores? Pois, não é verdade que, logo ao início do Banco da Agricultura, um seu dirigente principal, creio que espanhol e da Opus Dei, se locupletou com muitos milhares de contos, fugindo para o subcontinente americano? E não foram lá busca-lo? E o que foi que depois lhe aconteceu?...

Claro está que uma economia e uma finança sem ética podem levar à catástrofe e à ruína de um país de que são vítimas os mais pequenos e os mais pobres. Simplesmente, os nossos bispos nunca nos indicam as causas desta realidade que varre o Mundo, nem como evitar a mesma, ou o banco do Vaticano não se tinha prestado à variedade de crimes em que se envolveu e de que só foi denunciado a partir de fora – Secretaria de Estado dos Estados Unidos, Nações Unidas e Finanças de Itália.

De um modo fabulosamente populista, um dos bispos ainda veio salientar que não se deve ver apenas a política como uma mera luta partidária. Mas, então, o que acham os bispos que deve servir de modelo à nossa organização político-social? Não é verdade que Carlos Costa nos disse há dias que se sentiu traído pela gestão de Ricardo Salgado, acusando o Grupo Espírito Santo de ter desenvolvido um esquema de financiamento fraudulento? E que é feito das autoridades judiciárias? Não foi Luís Marques Mendes que nos confirmou que se tudo isto tivesse tido lugar nos Estados Unidos já existiriam detidos? E não é verdade que há já quem queira atrasar todo este problema à custa de uma comissão parlamentar de inquérito? Portanto, o que têm os nossos bispos a dizer de toda esta realidade portuguesa? Pois, a minha opinião é que, de útil, realmente nada.

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