Um Apocalipse já à vista

Hélio Bernardo Lopes
Escreve diariamente
Passaram quatro décadas sobre a Revolução dos Cravos e o que pode hoje já dizer-se sem receio de errar é que a desilusão é total.

Não porque os portugueses não prefiram a liberdade de expressão do pensamento face à sua negação, mas porque o que acabou por sobrevir, após todo este tempo, são terríveis dados, revoltantes e repugnantes: impostura ideológica a toda a prova, corrupção absolutamente imparável, cabalíssima ausência de futuro, destruição das regras do Estado de Direito, perda da independência nacional e absoluta ausência de uma grande estratégia que seja realista e nos prepare para o futuro que se aproxima e nos traz um verdadeiro apocalipse. Ligando tudo isto, esse cancro em que se está a tornar, rapidamente, a grande comunicação social, com especial ênfase para a televisão. Os portugueses, indubitavelmente, estão pelas pontas dos seus maiores cabelos.

Neste último aspeto, terão valido por tudo o resto as inacreditáveis intervenções de Fátima Bonifácio, numa espécie de frente-a-frente em florete com José Adelino Maltez, e de Clara Ferreira Alves, numa inopinada análise sobre uma suposta unidade (suportada na política de destruição já praticada pela atual Maioria-Governo-Presidente) entre PS e PSD para o futuro (dito risonho) do País. Simplesmente ridículo!

Estes nossos comentadores e analistas, alguns dos quais já foram tudo e são hoje o seu contrário – imagine o leitor o que se daria com nova revolução de esquerda...–, nem se dão ao trabalho de olhar para o apocalipse que se está a aproximar do Mundo, em geral. A generalidade destes comentadores e analistas, provavelmente pagos a peso de ouro, queixam-se da Alemanha de Merkel, brandem o (suposto) risco de Marine e outros, e dizem acreditar que, com boas práticas, podemos fazer tão bom e tão bem como os melhores. Pelo meio, aquela referência de José Adelino, de que a nossa independência foi sempre conseguida com o apoio dos ingleses...

Estes nossos concidadãos não refletem, um minuto que seja, sobre o devir do Mundo nem sobre o alcance da vontade psicológica dos portugueses. Continuam a viver, suportados em raciocínios antagónicos, numa organização da comunidade nacional que esquece a realidade próxima a que o Mundo vai chegar. Toda uma desatenção que deverá suportar-se em muito de interesseiro e de egoísta, mas também na crença residual de que o Homem acaba sempre por superar todos os obstáculos que possam surgir-lhe. Não refletem, um mínimo que seja, sobre as consequências do desenvolvimento científico e tecnológico e sobre o imperativo de deitar mão de uma nova moral e de um novo Direito que defenda o primado da dignidade da vida humana e do Planeta.

Neste sentido, foi extremamente interessante a experiência, livremente levada a cabo por certa jornalista francesa – uma freelancer, claro está –, que lhe permitiu ter uma ideia do que será a vida em caso de colapso do atual sistema económico, assim renunciando, durante um ano, a viver no seio da sociedade de consumo que se conhece.

Ora, naturalmente, a jovem jornalista tirou esta conclusão, a que facilmente se poderá chegar por via conceptual: o nosso sistema económico está baseado na perspetiva de crescimento infinito, mas o nosso mundo ecológico está limitado. A única novidade desta experiência foi, naturalmente, a vivência pessoal, confirmando o que se pode já perceber, saber ou ter vivido.

Sendo hoje uma evidência que a atual Maioria-Governo-Presidente está a liquidar a ciência em Portugal, como há dias referiu o académico Carlos Fiolhais, a verdade é que a sua afirmação de que o Governo está a matar a árvore do desenvolvimento é muito discutível, porque se assiste hoje a um progresso científico e tecnológico cujos bons efeitos já não chegarão à generalidade dos portugueses e cujos maus efeitos podem até trazer ainda mais pobreza e marginalidade humana.

Percebendo-se que a tecnologia será o futuro, está hoje em causa o perigoso impacto negativo que a evolução daquela poderá trazer para a Humanidade. Dá-se facilmente conta de que o emprego se apresenta como o elo mais fraco da evolução tecnológica que tem vindo a ter lugar. E hoje já de um modo muitíssimo acelerado. Se as tarefas das pessoas passarem a ser operadas, em larga escala, por meios físicos automáticos e muito eficazes – mesmo inteligentes –, sobrarão milhares de milhões de seres humanos.

Digam a direita ou a esquerda o que quiserem, a grande verdade é que se caminha para um apocalipse. Com a imensidão de defeitos e de pecado que assiste à Igreja Católica e aos seus membros, a verdade é que os Papas não têm poupado esforços no alerta às populações do Mundo e aos seus líderes. Infelizmente, os interesses, o crime organizado ao nível do poder político e a fantástica onda de corrupção que varre o ambiente político, acabam por determinar uma inércia que irá conduzir-nos e ao Planeta a uma perigosa situação. O tal perigo incontrolável a que, há um tempo atrás, se referiu John Kerry, ao reconhecer que o tempo da Guerra Fria era mais previsível e mais seguro.

Espero bem estar enganado, mas começo a ter a sensação de que o futuro poderá ser ainda pior que o nunca chegado – nunca chegaria, como facilmente se percebia com boa-fé – inverno nuclear. E por isso compreendo muitíssimo bem a defesa do PCP de que a banca comercial seja nacionalizada. Com as devidas diferenças, não nos faltam casos neste domínio: BCP, BPN, BPP e, agora, o que está a passar-se ao redor do BES, seja este ou uma outra estrutura qualquer. E nós a pagar... E ainda houve quem defendesse a privatização da Caixa Geral de Depósitos!! É, no fundo, o desenrolar do já nosso pequeno apocalipse, mas que dá para ir passando uma vida de angústia e de infelicidade.

Por fim, o meu regozijo pela ida dos restos mortais de Sophia de Mello Breyner Andresen para o Panteão Nacional. Muitos outros escritores poderiam estar ali por mérito próprio, tal como se dá com Sophia. E também espero que se não esqueça a trasladação dos restos mortais de Eusébio, uma dos símbolos supremos da identidade de Portugal.

Pudemos ver isso à saciedade, sendo conveniente que nos libertemos de preconceitos e manias sociais.

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