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Hélio Bernardo Lopes Escreve diariamente |
É verdade que José Sócrates tudo fez para que não viéssemos a ser atingidos pelas graves consequências de um resgate, mas a verdade é que lhe faltaram os essenciais apoios do Presidente Cavaco Silva, do PSD de Pedro Passos Coelhos, do CDS/PP de Portas, e todos eles fortemente apoiados – inacreditavelmente, diga-se – pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda.
É também verdade que a Alemanha e outros Estados europeus ficaram deveras aborrecidos com o pedido de resgate de Portugal, para mais depois de Merkel e da Comissão Europeia terem ajudado o Governo de Portugal com a aprovação do PEC IV.
Simplesmente, tudo isto era, de facto, o que tem vindo a ser aplicado, mas que iria seguir um rumo muitíssimo mais lento e com alguma preocupação humanista. Foi toda esta realidade que fez com que muita gente que sempre apoiou Sócrates e hoje apoia Passos Coelho e Cavaco Silva, nunca tenha compreendido completamente o rumo que Sócrates acabou por vir a ter.
Os de boa memória e atentos ao que corre pela nossa vida político-social terão de ter-se dado conta de que o início do desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde começou, precisamente, pelo final do Governo de Guterres e sob a batuta de António Correia de Campos. O próprio António Arnaut teve já a oportunidade de reconhecer isto mesmo.
Em complemento, estes nossos concidadãos ter-se-ão já dado conta do estrondoso silêncio de António Correia de Campos em face da política de intensa e acelerada destruição do Serviço Nacional de Saúde, agora sob a batuta de Pedro Passos Coelho, Maria Luís Albuquerque e Paulo Macedo. De António Correia de Campos, bom, nem uma palavrinha...
Mas uma palavrinha sobre o estado da Saúde em Portugal, porque sobre a luta que se trava agora no PS, bom, já surgiram palavrinhas diversas, mas deveras infelizes. Vejamo-las.
Com enorme clarividência – tardia e inútil –, Correia de Campos lá veio reconhecer que as coisas estão feias no PS e vão ficar ainda pior. E tem razão, como digo, mas não por via do que designa por ambiente carnavalesco registado pelas câmaras. Diz mesmo que elas têm um efeito demolidor na política e que abre caminho ao populismo justicialista. Ou seja: afinal, Salazar tinha razão, sendo conveniente ler o seu discurso de 1957 no Porto. É para caso para que exclamemos: ao que chegou o PS!
Com igual clarividência, reconhece a existência de uma divisão orgânica nas bancadas do partido. Mas não é verdade que o PS de Seguro levou de vencida duas eleições? E não o é, por igual, que a esmagadora maioria das sondagens – as que sempre contaram e não a da noite das europeias, como é evidente – sempre situaram o PS na zona dos trinta e sete pontos percentuais? Como é possível que António Correia de Campos, depois das diatribes do PS ao longo da III República, sempre cedendo em tudo às exigências dos grandes interesses e perante uma pobreza que se percebe ter vindo para ficar, continue a acreditar que o PS poderá vir a ter em 2015 uma maioria absoluta, seja lá com quem for na sua liderança? É verdadeiramente risível!
Ainda mais risível é a sua inacreditável afirmação de que começa a ser claro que a direita convencional está com Seguro!! Mas será que António Correia de Campos vê televisão e lê jornais? Ou será que anda cansado da política e se determinou a parar? De bom grado aceitaria um jogo com António Correia de Campos nestes termos: por cada comentário a favor de Costa, dá-me ele um euro; por cada um a favor de Seguro, dou-lhe eu dez. Bom, caro leitor, o nosso António Correia de Campos bem acabaria por vir a perder dois ou três dos seus vencimentos...
Depois, António Correia de Campos sai-se com este mimo: há uma forte maioria sociológica que aspira por Costa, dentro e fora do partido. Bom, caro leitor, eu quero acreditar que António Correia de Campos disse estas palavras determinado pelo jogo político, porque de outro modo nada perceberia do que se passa no seio da sociedade portuguesa. Analisemos este tema.
Em primeiro lugar, o PS perdeu já a sua credibilidade como partido de alternativa. Mas perdeu-a porque a foi perdendo ao longo dos anos e das décadas. O PS, de facto, estava apenas sustentado pela existência do Estado Social, de que sempre se mostrou um grande defensor objetivo. E isto apesar de António Correia de Campos ter dado início ao desmantelamento dos Serviço Nacional de Saúde e de Vieira da Silva lá ir embarcando em mexidelas na Segurança Social, ao mesmo tempo que Maria de Lurdes Rodrigues ia fechando muitas centenas de escolas.
Em segundo lugar, para que essa credibilidade pudesse ser recuperada teria de sair do PS, mormente dos que questionam Seguro, a garantia honrosa de que, no prazo de uma legislatura, seria reposta a situação social retirada aos portugueses. Ora, a verdade é que Seguro deu a sua palavra de honra que tudo faria para atingir esta situação, mas mais ninguém diz o mesmo, ou mesmo mais e melhor.
Em terceiro lugar, os portugueses já se deram conta de que um conjunto vasto de militantes do PS, que hoje atacam Seguro, estão sempre a apoiar a política da atual Maioria-Governo-Presidente, ao invés de António José Seguro, que sempre recusou a tal perigosa e fatídica ideia do consenso.
E, em quarto lugar, a tal previsão do académico norte-americano de que existe um partido a mais no seio da sociedade portuguesa. Hoje, já se não duvida de que esse partido é o PS, mas porque desde sempre ele alinhou com os grandes interesses dos herdeiros da direita da II República. O posicionamento histórico-político do PS foi de tal modo, que se atiraram para as mãos da UNITA e de Savimbi como se fossem o Céu e um santo a mais. Bom, foram completamente ultrapassados pelos Estados Unidos. E agora mesmo, com o País com uma mão atrás e outra à frente, continuam a atacar a presença da Guiné Equatorial na CPLP por lhe faltarem…os direitos humanos! Bom, caro leitor, vivem na Lua!!
Desconheço o que se passa no interior do PS, mormente ao nível dos milhares de militantes há dias secundarizados por duas dezenas e meia de históricos, mas conheço a rua. E o que nesta vejo é o completo desinteresse pelo que se passa no PS. Não vejo nenhuma corrida em favor de ninguém. É um tema sem novidades, porque as que realmente interessam não virão nunca com o PS. Nem deverão algum dia voltar.
Por fim, uma nota muito particular e também simples: os portugueses estão fartos da grande generalidade da classe política que escolheram, mas também não se interessam muito pelo que se vai passando no País. Além do mais, os preguiçosos portugueses – para a política, obviamente – já perceberam muitíssimo bem que as mexidelas anunciadas pelo PS no domínio do Sistema Político visam apenas garantir que o PS não caia a pique, distorcendo a representatividade político-partidária. Esqueçam António Correia de Campos e os restantes históricos do PS a tal maioria absoluta, porque o PS não voltará a consegui-la.