Indicadores significativos

Hélio Bernardo Lopes
Escreve diariamente
Aí surgiu a mais recente obra de Mário Soares – EM DEFESA DO FUTURO –, embora já conhecida dos mais atentos e que acompanham os seus escritos das terças-feiras no Diário de Notícias. Embora o novo livro contenha também alguns outros textos, certamente desconhecidos da grande maioria, e de tipo diverso, incluindo entrevistas a órgãos de comunicação social estrangeiros, poderá não transportar consigo um grande interesse.

Coube a Viriato Soromenho Marques a apresentação da obra, onde esteve presente muito pouca gente do PS ou do ambiente mais referente da nossa sociedade. No fundo, gente verdadeiramente amiga, o que determinou uma grande alegria junto do autor, que referiu mesmo a amizade e as amizades como algo que sempre apreciou ao longo da sua vida e que porfiou em cultivar. Na circunstância, Mário Soares salientou temer o fim da Terra como a conhecemos, pensando que devemos ouvir os cientistas que alertam para os riscos que o planeta corre. E teve a mais cabal razão, voltando a tê-la ao referir que aqueles que não pensam no futuro da nossa Terra contribuem para a pôr em risco, e também quando salientou que esses só querem ganhar dinheiro e nem percebem que serão as primeiras vítimas! O mais provável é não serem logo as primeiras vítimas, mas acabarão também por ver-se atingidos pelo mal que vêm causando.

Ainda cheio de razão, o antigo Presidente da República salientou que os perigos ambientais vêm de uma globalização que se tornou um fenómeno absurdo. Mas se é verdade que esta é uma realidade já indiscutível, a verdade é que uma qualquer globalização teria sempre de ser deste tipo. Os Estados são distintos e têm poder diferente, nuns maior do que noutros. E hoje, o Mundo, após a desistência do seu ideário pelos defensores do (dito) socialismo democrático e da social-democracia – renderam-se e vêm apoiando o neoliberalismo e a sua globalização –, tornou-se num lugar de exploração incontrolável dos seus recursos, incluindo o trabalho dos seres humanos, agora caídos numa nova escravatura. No fundo, a ciência e a tecnologia acabaram por agudizar as piores caraterísticas humanas. A verdade é que Mário Soares, tal como Jorge Sampaio, foi sempre um estrénuo defensor da globalização, embora a que apontava como boa, dando mostras de algum desconhecimento da natureza humana.

Como teria de dar-se, Mário Sores lá referiu que acredita em Portugal, profundamente, e no povo português. Mas, como se percebe facilmente, este é o tipo de discurso sobre que pouco importa tecer grandes comentários. A realidade vai falando por si, suportada na História. Mas é um tema sobre que vale sempre a pena recordar que a nossa independência, mormente face à Espanha e à França, foi sempre suportada no apoio inglês e no tratado que, estrategicamente, os dois países estabeleceram. Ele era essencial a Portugal e ao Reino Unido.

Com grande realismo e bem suportado tecnicamente, Viriato Soromenho Marques terminou a sua intervenção com a referência à atual crise, prevendo que o pior ainda está para vir. Sabe-se já, quando escrevo este meu texto, na manhã do último sábado, que tal realidade se encontra já em curso de desenvolvimento. Eu mesmo chamei já a atenção do meu netinho de doze anos para tal realidade, salientando-lhe o quão essencial é estudar e não perder tempo e oportunidades.

A verdade, no meio do que vai pelo Mundo, é que, por entre nós, vêm surgindo terríveis indicadores, a que não se estava muito habituado. Um desses indicadores é o que se prende com a recente condenação de duas procuradoras e pelas razões que foram amplamente noticiadas, embora o caso não tenha ainda atingido o seu fim, ao que que creio.

Pelo final da passada semana, aí nos surgiu a notícia da fuga, após atropelamento, de um coronel da GNR na situação de reforma. Uma realidade impensável há uma década atrás, mas que a dissolução moral e social do tecido humano português talvez possa explicar.

Pela mesma altura, um capitão-de-fragata da nossa Marinha, da carreira de Fuzileiros Navais, matou a sua mulher num pinhal, suicidando-se de seguida. A Polícia Judiciária tomou conta deste caso, mas a experiência mostra que as razões do mesmo acabarão por não vir a ser conhecidas, podendo tudo ficar-se por uma situação ligada a uma depressão.

Ainda pela mesma altura, uma trintena de fuzileiros navais viram-se retidos por, supostamente, desonrar a bandeira nacional. Ao que creio, durante a tarefa de retirar a mesma do poste em que se encontrava içada, pelo final do dia.

Também na margem sul do Tejo, um casal de Belverde, no Concelho do Seixal, foi encontrado morto em condições ainda desconhecidas. Tal como no caso do oficial antes referido, o mais provável é nunca se vir a conhecer a verdadeira realidade que poderá ter estado aqui em jogo. Esta é hoje uma realidade que se vem tornando frequente, mas sobre que (quase sempre) se fica sem saber o que realmente possa ter tido lugar.

No domínio da corrupção, eis que chegou agora a vez de assistir à acusação de cerca de oitenta médicos e por aspetos muito diversos. Seja qual for o resultado final deste caso, a verdade é que se trata de uma temática que se vem mostrando imparável. Enfim, um extenso rol de desagradáveis indicadores do estado moral a que chegou a nossa III República, quatro décadas depois da Revolução de 25 de Abril. Para já não referir o desemprego, a pobreza, a miséria, a emigração e a enorme perda da independência nacional. E tudo, claro está, com uma ampla democracia – um arremedo dela...– a funcionar.

Por fim, as recentes considerações de Alberto da Ponte, numa entrevista por si concedida. Diz Alberto que Pedro Passos Coelho virá, um dia, a ser apontado como um super-herói!! Ao que junta os casos de Mário Soares e de Francisco Sá Carneiro. Para os mais atentos, o valor desta consideração vale por si e não necessitaria de mais explicações. Mas é essencial salientar que Pedro Passos Coelho nada de verdadeiramente inovador trouxe a Portugal, a não ser desemprego, pobreza, miséria e emigração. E tudo por nada, porque o futuro de Portugal vai ser uma autêntica desgraça. Nada do que prometeu veio a dar-se, muito pelo contrário.

E se ninguém hoje considera Mário Soares um super-herói, reconhecendo-se embora ter sido a figura cimeira da III República, já o caso de Francisco Sá Carneiro é de todo incomparável, dado que quase não governou o País. Um ano de governação, de facto, não poderia ter deixado marcas palpáveis. Sá Carneiro, sem nada ter feito para tal situação, foi mitificado por alguns dos nossos políticos e outros tantos jornalistas. Para estes, ele era o verdadeiro D. Sebastião. Portugal estaria hoje a liderar o pelotão da frente da União Europeia se não tivesse sido assassinado.

Certo, isso sim, é que, como há dias referia, nesta mais recente manifestação, um nosso concidadão, ele vive hoje muito pior do que antigamente. Uma realidade sobre que referi já o vencimento de Mário Lino no LNEC, na categoria de entrada, que ultrapassava a terça parte do correspondente ao de Américo Tomás. Hoje, o vencimento do Presidente da República andará entre dez e doze vezes o de um jovem que entre para o LNEC na categoria de entrada. A expectativa do português comum, hoje, é absolutamente negativa, mas era muitíssimo positiva nos cinco anos finais do regime constitucional da II República. Uma triste e dolorosa realidade. Passos Coelho, um super-herói!!!

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