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Hélio Bernardo Lopes Escreve diariamente |
Muitíssimo mais claro foi Alfredo Barroso, que teve a lucidez e a coragem de reconhecer que o socialismo democrático já não é o que era, duvidando-se mesmo que seja socialista, ou sequer social-democrata ou trabalhista. Só erra no tempo, quando diz que já não é o que era, porque, de facto, nunca existiu. O que existiu foram as concessões dos interesses com a finalidade de evitar o avanço do socialismo. Uma situação que mudou, dado que se percebeu que os povos têm limitações próprias na sua liberdade de escolha.
Mas António Campos consegue atingir o ridículo ao salientar que o PS só poderá conquistar novamente uma maioria absoluta se António Costa estiver à frente do partido. Uma afirmação que me deixa perplexo, ao constatar que António Campos, a uma primeira vista, ainda acredita numa nova maioria absoluta!
Se António Campos tiver visionado o comentário de ontem de Angusto Santos Silva, na TVI 24, terá podido ouvir deste que se António Costa vier a liderar o partido sem maioria absoluta negociará com a direita ou com a esquerda, salientando que Seguro irá continuar a manter a sua atual postura. E, de facto, a direita dos interesses deseja a saída de Seguro a qualquer preço, dado que por aqui nunca chegará o tal consenso pré-eleitoral. Como se vem vendo de há muito.
Note-se que, ao contrário das afirmações de António Campos, Seguro ainda ontem garantiu que a prioridade vai para a reposição dos rendimentos dos pensionistas e dos reformados, sendo preciso acabar de uma vez por todas com a contribuição de sustentabilidade criada por este Governo. Tal como o líder do PS explicou, a prioridade é o fim da contribuição de sustentabilidade aplicada aos pensionistas, fazendo-se a recuperação dos rendimentos dos trabalhadores de acordo com o desempenho da economia.
Uma das causas do País e dos portugueses terem chegado ao lastimável estado que se vê, foi a adoção da terceira via ou a tonyblairização do PS, a partir da eleição de António Guterres para secretário-geral (e depois como primeiro-ministro), que causou uma enorme devastação ideológica no partido, como muito bem salienta Alfredo Barroso. Em todo o caso, esta foi sempre a realidade política do PS desde a Revolução de 25 de abril: abrir as portas ao regresso da direita dos interesses, embora com uma democracia formal em funcionamento. O que Guterres fez foi manter a linha que vinha de trás, mas adaptada à corrente ideológica que triunfou depois da queda da URSS.
Por fim, as cinco questões de Alfredo Barroso, no seu artigo de ontem. São questões muito importantes, extremamente candentes, mas sem resposta ao nível da classe política que temos. Hoje, Portugal deixou de ter quem o defenda dos interesses alheios, porque todas as suas medidas – adesão à Europa, adoção do euro, Tratado Orçamental, etc.. – são feitas na base histórica da oposição ao regime constitucional da II República: imitar os outros, supondo, inacreditavelmente, que o hábito faz o monge.
Convém que Alfredo Barroso leia o discurso de Salazar no Porto, em 1957, e conclua sobre o valor de verdade do que no mesmo se contém. Mas também que olhe a Seleção de Futebol de Portugal e, por exemplo, a da Alemanha. Esta, cinco anos depois de Adenauer chegar ao poder, ganhava o seu primeiro Mundial de Futebol. E, em 1912 a Suécia organizava as suas primeiras olimpíadas de verão, com o Governo de Portugal a proibir o direito de voto às mulheres. Cada povo tem a sua história...