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Hélio Bernardo Lopes Escreve diariamente |
O Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho, num destes dias, veio tentar sossegar os portugueses – e os mercados, claro está –, embora se perceba que teria sempre de ser assim, com ele ou com qualquer outro, com maior ou menor fidedignidade. De resto, e como todos recordamos bem, também assim se deu com José Sócrates. Simplesmente, o atual Primeiro-Ministro também já havia garantido que os cortes seriam temporários, embora já hoje sejam definitivos. Temos de esperar para poder aferir do que realmente irá ter lugar.
Certo, isso sim, é que o Banco de Portugal se viu obrigado a lançar dois comunicados em dois dias a garantir que tudo está bem, embora o FMI tenha tratado o caso com preocupação, salientando que o sistema bancário português apresentava várias vulnerabilidades e que o Banco de Portugal devia ter uma ação mais intrusiva ao redor da estimação da realidade de cada banco. Significativo, portanto...
Simplesmente, a verdade é que o mercado financeiro de pronto reagiu com a baixa do valor das ações. Uma situação que levou a nossa CMVM a suspender a sua venda a descoberto, prática sobre que havia sido dada a garantia de deixar de poder ter lugar. A tudo isto juntou-se a reação de diversas agências de notação financeira, logo baixando o rating do BES.
Quais papagaios, os nossos comentadores e analistas, verdadeiramente acagaçados, de pronto se apressaram a salientar que uma coisa é o BES, outra o GES. A realidade, porém, é outra: é e não é. E, por isso, pode não vir a ser assim. Aí estão as reações bolsistas por todo o Mundo e, até, as palavras de Angela Merkel, bem diferentes do que por aqui se diz. Terá mesmo havido quem tenha salientado o imperativo de destruir o abcesso criado no sistema bancário português, e no País, com todo este caso.
Além do mais (e do que se vai pretendendo passar para os portugueses e para o Mundo), a verdade é que o BES foi o agente de colocação financeira de papel comercial – dívida de médio e curto prazo das empresas ora em causa –, convencendo os clientes do banco sobre a bondade da aplicação dos seus capitais, sendo, pois, intermediário das mesmas.
Imagine o leitor que era eu o intermediário entre si e certo grupo financeiro, garantindo a bondade da aplicação das suas poupanças em certos negócios de outras empresas daquele grupo. Perante uma situação como a atual, o leitor olhava-me com bonomia, ou pedia-me também responsabilidades? Claro que as pedia! E com a mesma clareza se compreende a tentativa de José Maria Ricciardi de garantir que o BES não tem responsabilidades por ter sido mero intermediário... Tem o direito de se defender, como é evidente.
A tudo isto junta-se o caso da Rio Forte, de parceria com o risco inacreditavelmente assumido pela administração da PT, que continua, com a maior naturalidade, no exercício das suas funções! Mesmo quando já admite que possa vir a ter lugar um incumprimento da Rio Forte!! É caso para que se diga: o nosso Estado de Direito é hoje verdadeiramente fantástico! O que significa, como referiu o académico Francisco Louçã na passada sexta-feira, que na semana agora iniciada, poderá haver uma intervenção do Estado no BES, mesmo que através das verbas da Tróyka destinadas à banca.
Mas o que verdadeiramente me causa admiração é a duplicidade de critérios usados neste caso e no que se passou com o Governo de Sócrates, claramente vítima da crise mundial surgida nos Estados Unidos. Além do mais, e a fazer fé em gente mais sabedora, surgida num dos nossos canais televisivos na tarde da passada sexta-feira, parece que uma nova crise internacional poderá vir a dar-se nos próximos três anos. Verdade? Erro de apreciação? Pois, para mim, o mais provável é que tal crise possa vir a ter lugar, uma vez que pouco ou nada se modificou na sequência dos graves crimes praticados pela gentalha do neoliberalismo e da globalização sem limites.
Se estivermos atentos e dispusermos de alguma memória, nós já colecionámos, com gradação diversa, os casos ao redor da Operação Furacão, do BCP, do BPN, do BPP e, agora, do GES/BES/PT/OI. Para já não referirmos tudo o resto que por aqui vai passando, sempre na melhor das calmas: tudo sob controlo. No fundo, acabo por ter pena de Bernard Maddoff: teve o azar de nascer nos Estados Unidos...
Por fim, as recentes palavras de Daniel Bessa, ao redor de Sócrates e de Constâncio. Mas não é verdade que este, ao tempo da sua possível ida para o BCE, recebeu do Presidente Cavaco Silva os mais rasgados elogios? Não o apontou o Presidente da República como um técnico de altíssimo gabarito nos domínios da Economia e das Finanças? E não é Aníbal Cavaco Silva professor universitário de Economia e de Finanças? E alguém destas áreas veio a público levantar objeções à referida escolha? E acabou por criar problemas nas suas atuais funções? Não será ele, ao que parece, o braço direito do Presidente do BCE? Portanto, que lógica têm as palavras de Daniel Bessa? Nenhuma! E é assim porque nunca ninguém entre nós disse o que quer que fosse, ao tempo, sobre essa escolha.
Tal como se dá agora com o caso GES/BES/PT/OI, onde nos asseguram estar tudo bem. As críticas – e a realidade, claro – só surgirão mais tarde, como sempre acontece com a política e os negócios em Portugal. E como não teria de ser assim, se até os dezassete ou dezoito homicídios perpetrados pelas FP 25 nunca tiveram consequências para os criminosos? O que se percebe das recentes palavras de Daniel Bessa é que ele, por razões só suas, nem se dá conta de que se vive toda esta realidade em Portugal.
Ele disserta como se Portugal e o resto do Mundo civilizado sejam uma só realidade. A uma primeira vista, parece não se dar conta de que aqui tudo se passa com o ar da maior naturalidade. Quem sabe se não terá sido José Sócrates o grande culpado de tudo isto?
Já agora, caro leitor, dirija a sua atenção para o modo cabalmente silencioso como este caso do GES/BES/PT/OI vai sendo tratado pelos partidos da nossa oposição, pelos nossos bispos e pelas autoridades judiciárias. Nem o Presidente Cavaco Silva nos surgiu com uma palavra sobre tal tema. E se assim não foi com o Governo de José Sócrates, é porque este caso é incomensuravelmente mais delicado. Isto, caro leitor, é que é a democracia em Portugal: não viu, não ouviu, não sabe, não pensa, obedece. Já lá vão quatro décadas, depois dos anteriores quarenta e oito anos, e o faz de conta foi sempre a grande regra.