Começa a faltar o espanto

Hélio Bernardo Lopes
Escreve diariamente
Como os portugueses percebem agora bem, a situação de Portugal é a típica de uma autêntica tragédia. Sem conseguir chegar aos pormenores, quedando-me apenas ao redor das condições envolventes, nunca duvidei de que o balanço da III República seria deste tipo. Por sorte, escrevendo em muitos dos nossos jornais desde 1997, eu tive a oportunidade de ir chamando a atenção desta mesma realidade que está agora a viver-se e de novo ao redor da banca.

Quando escrevo este texto, há já umas quantas conclusões que podem tirar-se: a atual situação é muitíssimo singular e com uma dimensão ainda longe de realmente compreendida; o Sistema de Justiça praticamente não aparece; quem sai, nos termos do noticiado, fá-lo-á com uma quase inimaginável prebenda; e, por fim, o caso parece começar a internacionalizar-se.

Num ápice, a luta fratricida no seio do PS, para mais depois de duas vitórias eleitorais e com uma terceira no horizonte, quase desapareceu dos noticiários e da gargalhada geral nas convivências correntes, Um novo tema surgiu, num certo sentido já conhecido, mas imensamente mais preocupante...

De tudo isto, porém, o mais interessante para mim é o completo desinteresse dos portugueses por tudo o que vai tendo lugar no País, percebendo-se já que uma nova tragédia poderá vir a abater-se sobre a generalidade de nós todos. Nas convivências correntes a reação é agora de um sorriso amarelado, com cada um com a certeza de que se algo vier a dar-se de grave será para a generalidade dos portugueses e não para os fautores do desastre económico-financeiro para que fomos atirados.

É bom que o leitor recorde as excelentes lições de falsa moral que esta rapaziada dos jogos financeiros procurava dar a cada um de nós: teríamos vivido acima das nossas possibilidades... A gestão pública era péssima, consentindo todo o tipo de abusos, ao contrário da privada, onde a excelência e a boa governação eram a regra.

Pois, caro leitor, está aí, de novo e a um altíssimo grau, a resposta a tais considerações. E que é feito da Justiça? Será imaginável que nos países onde ainda está presente, com alguma força, o Estado de Direito Democrático, as coisas continuassem a desenrolar-se como por cá se vai vendo? Claro que não! E sabe o leitor o que lhe digo? Pois, que começa a faltar o espanto!

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